Mário Dionísio Nasceu 16 de Julho de 1916, é poeta, ensaísta, ficcionista, romancista, artista plástico e crítico de arte teve um papel importante no neo-realismo português sendo um dos principais promotores e teorizadores desta corrente. A sua poesia foi-se progressivamente afastando do neo-realismo uma vez que o autor evoluiu com o tempo e as mudanças estéticas, políticas e sociais, muito embora se tenha afirmado sempre como opositor ao fascismo salazarista. Morreu em 1993.
Mário Dionísio diz:
"Sou actor e não espectador. Estou bem quando faço e não tanto quando ouço ou vejo. Sofro de uma grande insatisfação. Não se pode viver sem utopia, a não ser talvez os pobres fulanos, cuja utopia se confunde com o que há e têm. Ou se muda o homem, ou não se muda nada."
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MEU GALOPE É EM FRENTE
Direis que não é poesia
"Sou actor e não espectador. Estou bem quando faço e não tanto quando ouço ou vejo. Sofro de uma grande insatisfação. Não se pode viver sem utopia, a não ser talvez os pobres fulanos, cuja utopia se confunde com o que há e têm. Ou se muda o homem, ou não se muda nada."
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MEU GALOPE É EM FRENTE
Direis que não é poesia
e a mim que importa?
Eu canto porque a voz nasce e tem de libertar-se.
E grito porque respondo
às lanças que me espectam
e aos braços que me chamam.
E porque, dia e noite, minhas mãos e meus olhos,
por estranhas telegrafias,
dos cantos mais ignotos
e das linhas perdidas
e dos sempre esquecidos
e dos lagos remotos,
e dos montes,recebem longas mensagens e comunicações:
para que grite e cante.
O meu grito e meu canto é a voz de milhões.
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que tiver a cantar
e grito e gritarei o que tiver a gritar
e falo e falarei o que tiver a falar.
Direis que não é poesia.
E a mim que me importas
e eu estou aqui apenas para escancarar a porta
e derrubar os muros?
E a mim que importas
e vós sois afinal o que hei-de ultrapassar
e esmigalharem nome
de todos os futuros?
Eu sigo e seguirei
como um doido ou um anjo,
obstinado e heróico a caminho de nó
sem palavras e acções
por todos os vendavais
e temporais
e multidões
nos campos mais ignotos
e nas linhas perdidas
e nos campos esquecidos
e nos lagos remotos
e nos montes
- por terra, mar e ar.
Direis que não é poesia
E a mim que importa!
Convosco ou não, meu galope é em frente.
Pertenço a outra raça a outro mundo,
a outra gente.
É andar, é andar!
(Mário Dionísio)
(Mário Dionísio)
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