quinta-feira, 4 de setembro de 2008

MÁRIO DIONÍSIO, O POETA


Mário Dionísio Nasceu 16 de Julho de 1916, é poeta, ensaísta, ficcionista, romancista, artista plástico e crítico de arte teve um papel importante no neo-realismo português sendo um dos principais promotores e teorizadores desta corrente. A sua poesia foi-se progressivamente afastando do neo-realismo uma vez que o autor evoluiu com o tempo e as mudanças estéticas, políticas e sociais, muito embora se tenha afirmado sempre como opositor ao fascismo salazarista. Morreu em 1993.


Mário Dionísio diz:
"Sou actor e não espectador. Estou bem quando faço e não tanto quando ouço ou vejo. Sofro de uma grande insatisfação. Não se pode viver sem utopia, a não ser talvez os pobres fulanos, cuja utopia se confunde com o que há e têm. Ou se muda o homem, ou não se muda nada."
:
MEU GALOPE É EM FRENTE

Direis que não é poesia

e a mim que importa?

Eu canto porque a voz nasce e tem de libertar-se.

E grito porque respondo

às lanças que me espectam

e aos braços que me chamam.

E porque, dia e noite, minhas mãos e meus olhos,

por estranhas telegrafias,

dos cantos mais ignotos

e das linhas perdidas

e dos sempre esquecidos

e dos lagos remotos,

e dos montes,recebem longas mensagens e comunicações:

para que grite e cante.

O meu grito e meu canto é a voz de milhões.

Por isso que me importa?

Eu canto e cantarei o que tiver a cantar

e grito e gritarei o que tiver a gritar

e falo e falarei o que tiver a falar.

Direis que não é poesia.

E a mim que me importas

e eu estou aqui apenas para escancarar a porta

e derrubar os muros?

E a mim que importas

e vós sois afinal o que hei-de ultrapassar

e esmigalharem nome

de todos os futuros?

Eu sigo e seguirei

como um doido ou um anjo,

obstinado e heróico a caminho de nó

sem palavras e acções

por todos os vendavais

e temporais

e multidões

nos campos mais ignotos

e nas linhas perdidas

e nos campos esquecidos

e nos lagos remotos

e nos montes

- por terra, mar e ar.

Direis que não é poesia

E a mim que importa!

Convosco ou não, meu galope é em frente.

Pertenço a outra raça a outro mundo,

a outra gente.

É andar, é andar!
(Mário Dionísio)

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