segunda-feira, 26 de abril de 2010

O que querem é uma democracia "faz de conta" ?




No Diário Correio da Manhã de hoje, um tal Manuel Catarino assina mais uma diatribe contra a deputada Inês Medeiros, tudo indicando que a polémica à volta das suas viagens está para lavar e durar. Daí o sentir-me tentado a retomar o assunto para me interrogar sobre a motivação de tantos opinantes sobre o tema. Estaremos perante um caso de populismo, de mesquinhez, ou tais posições serão antes reflexo dum fraco conceito de democracia ? Acabo por optar por esta alternativa, atendendo a que já vi defensores da ideia de que deveria ser o PS a pagar os custos da viagens da deputada, porque lhe cabe a responsabilidade de a ter escolhido. De facto, pergunto, se um partido não pode livremente escolher quem o represente, que raio de democracia é esta?

Mas, dir-se-á: as viagens são caras. Pois são. Só que um tal argumento só se compreende do ponto de vista de quem tem um conceito de democracia do género "faz de conta". Para uma democracia assim, o "quanto mais barato, tanto melhor" faz, na verdade, todo o sentido. Doutro modo, não. Só que, assim sendo, justificar-se-ia também que quem questiona os custos das viagens da deputada já se tivesse lembrado de propor como condição de elegibilidade para a Assembleia da República que os candidatos tenham residência nas proximidades de S.Bento, de forma a possibilitar as deslocações a pé. Realmente, ainda não se lembraram ? Aqui fica a sugestão.

Já agora, além da sugestão, uma pergunta:

Se o apreço que tanta gente manifesta pelo órgão de soberania que dá pelo nome de Assembleia da República (formado exclusivamente por deputados eleitos) é assim tão escasso, ao ponto de se questionarem os custos das viagens duma deputada, por que não questionar, por idêntico motivo, as viagens do Presidente da República e das respectivas comitivas? Sirva de exemplo a realizada recentemente a Praga, viagem que, à primeira vista, para pouco mais serviu do que para o PR ouvir, de bico calado, da boca do seu homólogo checo, uns tantos enxovalhos, dando provas de que, pelo menos na República Checa, a boa educação e arte de bem receber convidados não constituem requisitos de elegibilidade para a Presidência da República.

Estou só a perguntar. Resposta não é precisa.

Francisco Clamote

sexta-feira, 23 de abril de 2010

UM PAÍS DE...!?...



Quem ainda não ouviu dizer que "as mulheres se querem pequeninas como as sardinhas"? Fiquem descansados, não me vou queixar das mulheres portuguesas nem elogiar a falta da posta do meio, uso esta expressão popular porque, como muitas outras, que mostram a nossa forma de nos superarmos. Agora que muitos ou muitas de vós já estão a zurzir contra este comentário infeliz vou directo ao assunto a que dedico este post, a tendência dos portugueses para condenar tudo o que é valor e elogiar as supostas virtudes das nossas fraqueza.


No mesmo país em que não se cansam de se queixar da falta de competitividade da economia tudo o que cheire a concorrência ou competitividade é tratado como pecado mortal, é banido. Como é que um país onde a ambição é considerada defeito pode sair da cepa torta? Dizemos às nossas criancinhas que é feio querer ser melhor do que o parceiro, os nossos professores em vez de promoverem a excelência procuram a mediania, os melhores alunos são esquecidos em nome da média, a nossa sociedade é gerida por um princípio inquestionável, no meio é que está a virtude.


Desde pequeninos que detestamos os melhores, os que mais se aplicam, os que dão mais de si, aluno que estude é “marrão”, aluno que não alinhe nas brincadeiras da maioria é menino da mamã, marrões e meninos da mamã são sérias candidatas à cacholeta e à galheta colectiva, aquilo a que agora se chama bullying. O pecado que cometem é serem ou pretenderem ser melhores do que os outros.


Acho graça que neste país se fale tanto em produtividade quando a sabedoria popular nos ensina que “o trabalho é para o preto”, na Administração Pública esta expressão foi transformada numa outra menos racista que diz que “o trabalho nunca acaba”. São necessárias pessoas capazes, que sejam superiores à média, capazes de fazer a diferença? No futebol talvez, o Liedson resolve, o Ronaldo resolve, o Falcão resolve, cada equipa procura ter um fora de série que resolva, que lhe dê os pontos necessários para chegar ao título, mas o princípio fica-se pelo futebol, nas empresas ou na Administração Pública a regra é bem diferente, de nada vale ser capaz de fazer a diferença, alguém nos diz logo que “o cemitério está cheio de insubstituíveis”.


Em quantas empresas e serviços público a obra feita por alguém de valor foi destruída num piscar de olho pelo idiota que lhe sucedeu? Muitas escolas, empresas e os serviços públicos portugueses são geridos por gente mediana ou fraca que instala uma cultura que promove a fraqueza intelectual, que cria mecanismos que colocam os fracos ao nível dos bons. Isso para não dizer que se promove o bullying institucional. Em vez das galhetas infantis os que mais de distinguem ou que evidenciem maiores capacidades são obrigados a desistir para dar a oportunidade aos mais fracos, são obrigados a algo muito tipicamente português, a “amochar”. A ambição é condenada, o querer fazer melhor é excesso de protagonismo.


Basta ir a uma empresa ou a um serviço público para encontrar gente capaz que desistiu, gente que foi vítima de processos ou de motivação motivados por cartas anónimas, gente que perdeu concursos manhosos organizados por fracos vingativos, gente que se cansou de lutar contra a corrente. O subdesenvolvimento português não tem apenas causas mensuráveis sob a forma de indicadores económicos ou sociais, um dos maiores entraves ao desenvolvimento do país é a cultura da mediania e da mediocridade que se instalou na nossa sociedade.


Reis e ditadores fracos e, mais recentemente, políticos de pouca dimensão, socorrem-se preferencialmente de gente que não presta, gente que por ser fraca tem de dispensar a dignidade, gente que só consegue superar a falta de inteligência com manifestações de subserviência e obediência. Décadas de dirigentes fracos transformaram o país num Portugal de gente fraca, um país cheio de frases que enaltecem as qualidades daqueles que não as têm.


Jumento


segunda-feira, 19 de abril de 2010

DUAS ALTERNATIVAS




Portugal tem duas alternativas para enfrentar o problema do desequilíbrio das contas públicas que estão a gerar défices elevados e ao acumular da dívida pública, ou enfrenta e resolve o problema ou adia na esperança de que o fim da crise económica facilite as soluções. Há uma terceira solução que consiste em fazer de conta que há soluções intermédia ou, o que é pior, fazer o discurso do PCP e do BE e fazer de conta de que não existem problemas.

Se Portugal adoptar as medidas que assegurem a correcção dos desequilíbrios a curto prazo isso dará argumentos aos grupos corporativos e às organizações sindicais para desencadear protestos envolvendo os funcionários públicos e trabalhadores das empresas do Estado, tais medidas geram descontentamento e têm consequências sociais. Isso passaria por eliminar despesas públicas, reduzir apoios sociais e acabar com parte do borlismo estatal que tem sido promovido nas últimas décadas, a redução da dívida implica que o Estado se desfaça de uma parte das empresas públicas ou de participações em empresas privadas.


O modelo de gestão do Estado seguido nas últimas duas décadas está esgotado, o país não consegue gerir riqueza para manter um Estado gerido segundo bons princípios e para agradar aos eleitores, não pode fazer expandir a despesa pública permanentemente, umas vezes com argumentando que tal é sustentado pelo crescimento económico, outras garantindo que é necessário para retomar o crescimento económico. Pior ainda, o país não pode continuar a gastar os seus recursos sem critérios orientando-os para as despesas que geram mais votos.


A ilusão de que a crise passará e tudo se resolverá é falsa e muito arriscada, quando a economia mundial crescer Portugal perderá a oportunidade de a acompanhar, quando os outros crescerem os portugueses terão de fazer as correcções que não fizeram a devido tempo. Mas nada nos garante de que a superação da crise mundial está para breve e fenómenos inesperados, como agora sucedeu com a erupção de um vulcão na Islândia, podem resultar no adiamento da superação da crise. Os portugueses correm um sério risco de terem de fazer os sacrifícios que agora recusam.


Adoptar agora as medidas que garantam a redução do défice e da dívida pública aumentaria a confiança dos mercados na economia portuguesa como, ainda mais importante do que isso, aumentaria a confiança dos investidores portugueses e estrangeiros na política económica portuguesa. A recessão combate-se com confiança e é essa confiança que estimula o investimento.


Se os políticos não perceberem que é necessário encontrar verdadeiras soluções parra grandes problemas e os trabalhadores não perceberem que o Estado está à beira de soçobrar perante a crise económica mundial poderão ter que vir a suportar maiores sacrifícios do que os que agora rejeitam. De nada serve um grande Estado sem dinheiro ou grandes direitos laborais sem emprego.


Jumento

terça-feira, 13 de abril de 2010

CADA CAVADELA UMA MINHOCA!...


Barbaridades à parte – ignorar por conveniência a pedofilia hetero e no feminino – concentremo-nos no essencial:

Esta patologia toca todos os tipos de pessoas e os padres num grau menor, em termos percentuais

Se é verdade que em termos percentuais é no seio das famílias que tem lugar a grande parte dos abusos sexuais sobre menores, também não consta que um só pedófilo, numa só família, tenha abusado sexualmente de mais de 200 – duzentas – 200 crianças e tenha morrido sem prestar contas à Justiça terrena. E é só um exemplo entre muitos. As contas têm de ser feitas por número de casos vs. abusador dentro da instituição família Igreja. Ou agora a Igreja não é uma família?!

José Simões


domingo, 11 de abril de 2010

SAIDA DA CARTOLA: UMA CORPORAÇÃO DE NOTAVEIS


Passos é um especialista em tirar coelhos da cartola. Convencido de que inventou a roda, deixou cair, como uma bênção no regaço dos atónitos congressistas, o discreto charme de uma proposta alegadamente luminosa.

Um Conselho Superior da República iria fiscalizar actos dos governos. Antigos presidentes disto e daquilo, muitos dos quais nunca antes eleitos por sufrágio universal dos cidadãos eleitores para coisa nenhuma, iriam fiscalizar actos de um órgão político, cujo poder resulta dos deputados eleitos pelo povo.

Uma espécie de antiga câmara corporativa de antes do 25 de Abril a substituir-se aos deputados eleitos. Verdadeiramente paradigmático, para nos mostrar que o referido Coelho, por detrás da sua fachada radicalmente neo-liberal, abriga afinal, como estrutura profunda do seu pensamento, o velho corporativismo que deus haja.

O novo chefe, que nem a actual crise demoveu de uma agenda perigosamente conservadora, no seu fundamentalismo neo-liberal, limou matreiramente as arestas mais assustadoras do seu discurso, num esforço de atenuação do seu potencial para espantar os eleitores menos distraídos. Mas não soube, no fundo de si próprio, distinguir as suas crenças mais apresentáveis das que exprimem cruamente um reaccionarismo político-ideológico claro. Ou então, ter-se-á deixado guiar por algum dos radicais de direita, que já se anunciam como integrando o Olimpo do novo poder laranja.
Rui Namorado

Equívocos sobre os submarinos















1. Ao contrário do que insistentemente diz o PSD, a iniciativa para a aquisição de três submarinos não coube a um governo de Guterres, mas ao último governo de Cavaco Silva, mesmo ao cair do pano, através de despacho conjunto [referido aqui], assinado a 12 de Setembro de 1995 por Figueiredo Lopes, ministro da Defesa, e por Mira Amaral, ministro da Indústria e Energia.

2. Não faz sentido imputar apenas a Paulo Portas a responsabilidade pelo dossiê dos submarinos, como sibilinamente tem procurado fazer o PSD e, em particular, Durão Barroso. A decisão de aquisição dos dois submarinos foi tomada num conselho de ministros realizado em 6 de Novembro de 2003, presidido por Durão Barroso.

3. Analisar, na hora actual, o dossiê dos submarinos não é sinónimo de utilizar em proveito próprio os métodos abjectos da brigada do reumático (Saraiva, Crespo, Guedes, Fernandes, Pacheco, etc.). O que está em causa não é descobrir se ocorreram actos de corrupção (que a justiça apurará), mas fazer a avaliação da gestão dos dinheiros públicos.

E para levar a bom porto essa avaliação, a questão não está em saber se o país precisa de submarinos, mas em esclarecer se os procedimentos adoptados foram os mais adequados para quem gere dinheiros públicos.

Miguel Abrantes

terça-feira, 6 de abril de 2010

O VAZIO





O país especializou-se de tal forma em discutir as supostas “falhas de carácter” que esgotado o tema sente-se um vazio no debate político, estamos em crise mas ninguém discute a crise, o TGV já nem suscita a mais pequena discussão, o novo aeroporto é tema do passado, o estatuto dos professores já não alimenta paixões. Que venha o Verão, o mundial de futebol e , se Deus quiser, um Benfica campeão.

Há uns anos atrás alguém se lembrou de dizer que o facto de o Benfica ser campeão teria um impacto positivo na economia, mas agora nem isso anima o debate, estamos convencidos de que a crise veio para ficar independentemente de quem ganhar o campeonato.


O país cansou-se, os magistrados cansaram-se, os directores dos jornais estão exaustos, Pacheco Pereira já nem aborda temas políticos no Público, o próprio Cavaco Silva parece estar em regime de pré-férias e não manifesta as suas habituais preocupações, até os seus assessores parecem ter desaparecido depois de terem metido os pés pelas mãos no hilariante caso das escutas a Belém.


O ‘Público’ ainda tentou animar o ambiente com as casas da Covilhã mas foi o que se viu, ninguém ligou ao tema. As pessoas estão fartas de jornais, da família Moniz, de magistrados, de assessores presidenciais, das lutas internas no PSD, das preocupações do Cavaco Silva, do penteado da Felícia Cabrita, da localização do aeroporto, do diploma de José Sócrates, das tentativas de vendas da TVI, do Medina Carreira, do João Cravinho, do caso Freeport, dos robalos do Godinho, da imaginação do procurador do Baixo Vouga.


A única coisa que conseguiram foi levar os portugueses a estarem fartos de falsos debate, de discutir falsos problemas, o vazio instalou-se, os ‘Prós e Contras’ são uma maçada, as grandes entrevistas da Judite a democratização das conversas em família, a ‘Quadratura do Círculo’ uma seca. Os comentadores estão a perder o interesse, quando vejo a Joana Amaral Dias confiro se mudou de penteado e faço zapping.


Sente-se um imenso vazio no país, um vazio de ideia, um vazio de debates sérios, um vazio de alternativas. Já ninguém se lembra de que Alegre é pré-candidato, já ninguém sabe de quem é a TVI, já ninguém espera que o Caso Freeport seja concluído antes das próximas legislativas, já ninguém se preocupa em conhecer todos os gatunos do BPN, já ninguém está interessado em saber qual vai ser o próximo discurso de Rangel no Parlamento Europeu, ninguém quer saber se a Manuela Ferreira Leite vai regressar ao Santander.


Basta-nos esperar semana a semana como se vai safar o Benfica, depois de amanhã será o Liverpoll, depois vem o Sporting que já desistiu do Vilas Boas que, pelo que parece, vai para o FC Porto.


Tudo o resto é vazio.




Momento zen de segunda_05_04_2010


João César das Neves (JCN) é um sacristão de serviço, Cireneu sempre disponível para carregar a cruz da sua Igreja.

Incapaz de parar o furacão levantado pelo bater de asas da borboleta mediática, JCN minimiza a dimensão do escândalo, ignora a perversidade dos actos de pedofilia e cala a cumplicidade dos Papas que preferiram o silêncio e a ameaça a quem denunciasse os crimes à denúncia que impedisse a dimensão da libertinagem.

JCN está desolado porque sabe que um povo que duvida da virtude dos padres descrê da omnipotência do seu deus; porque sente que os pecados pios afastam o rebanho do redil da sua Igreja; porque sente que as hormonas do clero criaram um mar de lama que suja as sotainas, mancha as mitras e a tiara.

O bem-aventurado esquece os pecados dos bispos e papas sem se dar conta que o mais grave não são os actos que os tribunais julgam mas o sofrimento das crianças e o crime de ocultação que os prelados cometeram e que, segundo a BBC, atinge os três últimos papas.

Desnorteado, acusa a comunicação social:

1 – «Parecendo combater a pedofilia, visa-se a promoção do aborto, eutanásia, divórcio, promiscuidade», obsessões que traz à colação em cada homilia;

2 – «A prática é tradicional. Assim se criou há séculos o mito da Igreja sanguinária nas cruzadas e Inquisição», como se tivessem sido inventadas para a denegrir;

3 – «Os processos [da Inquisição] foram rigorosos e transparentes, as condenações uma ínfima minoria dos casos julgados e pouquíssimas face às execuções civis…», como se a literatura sobre o assunto fizesse parte da conspiração judaica e do ódio jacobino»;

4 – Esqueceu-se de falar da evangelização e dos pogroms mas a um santo não se pode exigir tanto;

5 – A penúltima frase é lapidar: «Como Nero, os jornais hoje querem convencer-nos que os padres comem criancinhas».

Só de um bem-aventurado, com odor a santidade, podia ter saído o verbo «comer» para exonerar a responsabilidade dos funcionários do seu deus.

Amém.

Carlos Esperança