terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL!...


Aníbal despertou cedo. Passara uma noite atribulada, acordando muitas vezes, sempre a pensar no mesmo. A ansiedade dominava-o.

Olhou para o despertador e viu que eram 7 horas. A seu lado, Maria ressonava ainda. Um fiozinho de baba escorria-lhe dos lábios entreabertos.

Aníbal resmungou qualquer coisa e virou-se para o outro lado, tentando readormecer. Era muito cedo e o Palácio estava frio como o caraças!

A austeridade obrigava a desligar os aquecimentos durante a noite e o nariz de Aníbal estava gelado. Da narina direita pendia uma estalactite de ranho transparente.

Passou mais meia-hora e o silêncio do quarto só era incomodado pelo ressonar de Maria.

Não posso mais, murmurou Aníbal e levantou-se de supetão. Uma tontura obrigou-o a sentar-se na cama com estrondo. Maria acordou, estremunhada.

Que foi isso, Aníbal? Estás a sentir-te mal?

Não consigo dormir mais, resmungou ele.

Mas são só sete e meia da manhã! Está toda a gente a dormir ainda!

Quero lá saber, ripostou Aníbal. Tenho que ir ver as prendas no sapatinho! O que será que o Menino Jesus me deu este ano?!

E Aníbal acabou por se levantar, vestiu o roupão e chinelou em direcção à cozinha do Palácio.

Desde pequenino que gostava de manter a tradição do sapatinho na chaminé e não era agora, que era uma Pessoa Importante, que ia mudar.

Contrariada, Maria chinelou atrás dele.

Chegou a tempo de ouvir um pequeno urro.

Debruçado sobre o sapato de pála, Aníbal examinava a única prenda que lá tinha, com ar apreensivo.

Já viste isto, exclamou Aníbal, com voz rouca – Só tenho esta prenda do Oliveira e Costa: acções do BPN!

Sacana do Menino Jesus!
O coiso...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Crónicas anti-Cavaco (1): Ali-Babá


Nenhuma das pessoas que conheço de cuja honestidade não subsistem dúvidas tem o mau gosto de afirmar a sua honestidade constantemente, nem mesmo quando gente menor tenta pô-la em causa. Sabe-se lá porquê Cavaco Silva que não é um propriamente uma pessoa desconhecida sente uma grande necessidade de afirmar a sua honestidade, principalmente quando de alguma forma se gente fragilizado num debate político. Quando está em dificuldades lá vem com o espantalho da sua honestidade, como se essa suposta qualidade pessoal se sobrepusesse ao valor de todos os adversários e o tornasse superior a eles, no pressuposto de que é mais honesto do que todos os outros.

Esta afirmação constante da sua honestidade assenta, antes de mais num conceito muito estrito de honestidade, para Cavaco a honestidade parece ser um conceito que envolve apenas atributos materiais, como se não andasse por aí muito boa gente honesta que está farta de ser desonesta, ainda que daí não tenham resultados quaisquer benefícios materiais. Na carreira política de Cavaco não faltam episódios que permitem questionar a sua honestidade, a forma como deixou cair Fernando Nogueira a troco de vantagens política nas eleições presidenciais que perdeu frente a Sampaio, o modo como explorou politicamente o boato das escutas a Belém lançado pelo seu assessor mais íntimo ou mesmo o aumento de pensões de gente muito pobre em vésperas de eleições legislativas não lhe trouxeram benefícios materiais, mas são bons exemplos de que a honestidade não se mede apenas em contas bancárias. Um outro bom exemplo da honestidade segundo Cavaco Silva foi a forma como se esqueceu das aulas na Universidade Nova e depois se livrou de um processo disciplinar.

Esta afirmação de honestidade de mistura com tiques autoritários e da afirmação de uma personalidade maior do que a dos adversários não é nova na política portuguesa e cala muito bem nos meios mais conservadores, foi uma estratégia seguida há décadas por Oliveira Salazar. Só que em relação ao ditador Cavaco Silva está em desvantagem, Oliveira Salazar beneficiou de vencimentos modestos enquanto Cavaco coleccionou pensões, Oliveira Salazar morreu sem património enquanto Cavaco tem uma luxuosa vivenda no Algarve que, diz-me quem a conheceu bem, está acima dos rendimentos de um professor universitário, Oliveira Salazar nunca protegeu bandidos que iam levando o país à falência enquanto Cavaco usou o estatuto de Presidente da República para afirmar a inocência de Dias Loureiro, Oliveira Salazar nunca ganhou com acções enquanto Cavaco beneficiou da estranha valorização de acções de um grupo que tinha um buraco financeiro da ordem dos quatro mil milhões de euros.

Se Ali-Babá me viesse dizer que sempre foi honesto e que os que roubavam eram os quarenta ladrões sentiria o mesmo que sinto quando ouço Cavaco afirmar a sua honestidade, pouco me importa se Cavaco é ou não honesto, enquanto ele esteve no poder foi o ver se te avias, gente da sua maior confiança que chegou a Lisboa com o estatuto de maltrapilhos usufruem de riquezas que as lições de economia de Cavaco Silva não conseguem explicar. Com tantos ladrões à volta de pouco me serviria saber que o coitado do Ali-Babá até era honesto.
Jumento

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ai a caridadezinha!…


Os pobrezinhos voltaram a estar na moda.

Na verdade, junto de uma certa classe alta, muito ligada à igreja católica, os pobrezinhos sempre estiveram na moda, sobretudo na quadra natalícia.

Mas agora, com a malfadada crise, toda a gente quer mostrar que ajuda os pobrezinhos.

Desde as várias instituições, há muito presentes na sociedade, como o Banco Alimentar, a Cáritas, a AMI, as Misericórdias, muitas outras se juntaram a esta onda de solidariedade. É o caso da Ajuda de Berço, presente nos átrios dos grandes centros comerciais, da EDP, que anda a recolher roupa, livros e brinquedos, e dos restaurantes, que agora guardam as sobras para os pobrezinhos, com o alto patrocínio do Aníbal de Boliqueime e Senhora.

E as escolas, preocupadas com as crianças pobrezinhas, cheias de fome, decidiram manter os refeitórios das escolas abertos, durante as férias de natal, para lhes poderem dar uma refeição quente.

Numa escola de Setúbal, segundo conta o DN, o refeitório esteve ontem aberto, esperando por 50 crianças esgalgadas de fome. Havia lasanha para todos.

Não apareceu ninguém.

Nem um puto pobrezinho e esganado de fome apareceu!

Agora, as sobras dos carenciados deverão ser distribuídas pelos pobres envergonhados da classe média, os quais, por sua vez, hão-de guardar as sobras para os da classe média-alta, e as sobras deste serão distribuídas pelos ricalhaços, que a darão, finalmente, aos pobrezinhos, assim fechando o círculo da caridadezinha que se instalou neste país com cheiro a sacristia.

Mas havemos de acabar com os pobres, porra!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

RECORDANDO SOPHIA...



A primeira vez que ouvi falar em Sophia de Mello Breyner era criança. Tinha em casa uns livros dela que li, mas confesso que não me lembro quais fossem. Diziam-me que eram muito bem escritos, que em Portugal, ao contrário de outros países como a Inglaterra, a literatura infantil não era grande coisa, mas que Sophia era um oásis nesse deserto. Poderia ser que sim, mas havia poucos livros infantis de que me recordo ter gostado realmente.Do que me lembro, o seu nome foi referido com o maior respeito. Era uma poetisa, uma verdadeira.
Do que conheço, lembro-me apenas de uns lugares comuns, o que só vai em meu desfavor e não dela.

Também não gosto de falar de autores contemporâneos, ou em geral de pessoas contemporâneas, porque sei que isso suscita o discurso de ódio em que nunca se discutem ideias, mas apenas gostos e desgostos sem fundamentação, o que sempre achei pobre. Salientar alguém que nos é contemporâneo pode sempre gerar o “a contrario”: “se ele não fala desta e daquela pessoa é porque as acha medíocres”. O que é uma generalização apressada, mesmo que em algumas situações possa ser justa.

Mas por mais que se queira, quando um conjunto de pessoas, cuja opinião respeitamos, só nos diz bem de alguém, algum reflexo isso tem. No meu caso, começou por ser o da curiosidade. E quanto mais sei da pessoa, mais me suscita o respeito. E quanto mais vejo da obra, mais lhe admiro o estilo.
Amava a Grécia. É certo que não tinha a erudição de Hölderlin ou Goethe, mas isso diz muito das dificuldades culturais da época. Só quem andou procurando durante décadas livros das Belles Lettres e da Loeb (ou para quem pode, da Teubner) sabe como era difícil encontrá-los. Para além da velha Buchholz, nada havia em Portugal que os vendesse. Mas a sua ligação directa à terra permitiu-lhe intuir bem mais que muitos eruditos que fazem da filologia profissão. Despojada, apanhou mais de Arquíloco e Safo que muito estudante de filologia. Não era bem a terra que a inspirava, mas a capacidade de ver nela a ressonância das suas memórias. A sua ligação à Grécia era directa, menos intelectual, mas talvez por isso no seu caso muito vívida.

O seu estilo eleva-nos. Não é obrigatório que a literatura nos eleve. Pode-nos fazer cair no chão. Mas se se fica por nos deixar arrastar na lama, não nos dá a grandeza de Heráclito, mas apenas ar de pocilga. E a verdade é que é sempre mais difícil elevar que manter rasteiro.

O que mais me agrada nela é a ligação entre a personagem e a obra. A elevação não era um esforço, era uma tarefa inevitável. Nesse sentido era plenamente uma aristocrata, como sobram poucos, para a qual um mundo de evidências não limita, mas apenas enriquece. Uma problemática mal digerida apenas gera confusão. E não há criação sem certezas. Platão podia criticar Homero, mas não dita a sua existência.

Do que percebo, porque saliento que não sou especialista de Sophia, era a mesma elevação que a levou para a luta política. Conheci ao longo do tempo muitas pessoas do mesmo meio que lutaram contra os seus privilégios de classe, lutaram pelos outros, por uma concepção de justiça, sem terem nada a ganhar com isso. A luta do proletário pode ser justa, mas é forçosamente egoísta. Sei que está fora de moda, mas a luta do privilegiado contra os privilégios é sempre mais elevada.

Do que percebo, e nisso mais uma vez é uma personagem comovente, a sua história é uma repetição de um drama muitas vezes repetido ao longo dos séculos. É o segundo estado que toma a iniciativa de abdicar dos seus privilégios nos Estados Gerais da França pré-revolucionária, são aristocratas que proclamam os ideais igualitários da maçonaria e do iluminismo. A democracia ateniense é obra de três grandes aristocratas, Sólon, Clístenes e Péricles, e entra na grosseria quando o poder chega às mãos do povo recentemente promovido. E quando vemos a distância infinita que vai de um Churchill a uma Thatcher ou um Blair percebemos que a democracia mantém o seu viço quando não diz o seu verdadeiro nome, a de um regime misto.

Políbio e os estóicos elogiavam uma constituição mista de monarquia, aristocracia e democracia. Cícero acompanhou-os. Num mundo que se sentia velho, e tantas vezes o disse, é sinal de maturidade. O que dá esplendor a uma democracia é manter uma aristocracia e dela recolher uma figura humana que leva dezenas de gerações a produzir. Não é indo para a faculdade que se aprende o mais difícil e o essencial.

Parece que Sophia dizia que “o socialismo é a aristocracia para todos”. Conheço esse ideal, porque foi o que durante vinte anos me moveu. Por isso Platão me chocou durante anos, bem como a crítica que fazia à democracia ateniense e o monstro que pretendia gerar na sua genial, mas triste, República. Mas Péricles morto, e o poder na mão de oportunistas e demagogos, a ralé sem desejo de igualdade, mas apenas pretendendo ser mais que os outros, tiraram-lhes as ilusões. Nesse aspecto a herança iluminista é mais lúcida. Como dizia Voltaire, esse grande antecessor da democracia como se diz: “ a democracia é o governo da canalha”. Mera proclamação como tantas que fez, ou resultado de maior reflexão? Com Voltaire nunca se sabe. Os seus apreciadores correm sempre o risco de serem por ele desprezados.

A desilusão de Sophia com a vida parlamentar é um reflexo de todo o horror ao mecanismo que sempre caracterizou o aristocrata. Para o bem e para o mal. A subtileza jurídica, a rotina fora da ideia, a inércia de movimento são aspectos tristes e pouco expansivos da vida. O burguês domina-os melhor, e tanto melhor que assim seja.

O que me pergunto é se a mistura de Grécia, catolicismo e aristocracia, que gera pessoas de imensa elevação, não pode ser perigosa para os próprios numa democracia que desce à realidade chã e passa a ser dominada pelos denunciantes de Sócrates e pelos comerciantes de ideais, os que os invocam em proveito próprio e de mais ninguém. O que diria Sophia se visse o espectáculo actual? Pura especulação.

Não compreendo os facciosismos. Leni Riefenstahl fez o único documentário político de génio com o Triunfo da Vontade e a única reportagem desportiva que tem nome pleno de arte e que ainda hoje em dia influencia o jornalismo desportivo, mera glosa lateral da sua grande obra. Nem a I República nem o 28 de Maio tiveram obra digna desde nome que os cantasse. O 25 de Abril tem. “O dia inteiro e limpo”.

“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.“

Daqui a uns séculos será mais lembrado por quem o fez lembrar que pelo que aconteceu. Se nos preocupamos com os vencedores das Olimpíadas é Píndaro quem o conseguiu, não os atletas. Não me interessa saber se as pessoas são contra ou a favor do 25 de Abril, até porque à luz dos tempos nada é tão simples. Quem me disse bem de Sophia quando eu era criança era nuns casos forte opositor e noutros forte apoiante do regime salazarista. Essa grandeza de alma falta hoje muitas vezes na discussão no espaço público.

Hoje em dia achamos que é pieguice a ideia de um poeta imortalizar pessoas e eventos. Um duque de Saxe-Weimar que acolhe Goethe pôs Weimar no mapa do mundo graças a isso. Carlos Magno seria um pouco menos magno sem Alcuíno, ou Augusto sem Virgílio. E muita gente inteligente por esse mundo fora não perderia muito tempo com as Descobertas se não fosse Camões. Passámos da pieguice da omnipresença do criador, para a grosseria da sua ausência. Mas as obras que se guardam carinhosamente ao longo dos séculos não são relatos desportivos nem notícias sobre ministros. No desespero, na necessidade de escolha, e na medida do possível, são as grandes obras que se tentam salvaguardar. Tendo ido ao essencial, e tendo tentado viver o essencial, só posso ter o maior respeito pela obra e pela pessoa. E tenho pena que a democracia não a tome por modelo e prefira tomar por tal, não quem por ela se sacrificou, mas os seus beneficiários.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MEALHADA IMPLEMENTA AGENDA 21 LOCAL


A Agenda 21 Local do Município da Mealhada deverá estar pronta dentro de 18 meses. O documento que definirá o plano estratégico para o desenvolvimento sustentável do concelho vai começar a ser elaborado pelo Instituto do Ambiente e Desenvolvimento – IDAD da Universidade de Aveiro, que é parceiro da Câmara Municipal na implementação da Agenda 21 Local.

Dentro de aproximadamente ano e meio, o Município da Mealhada já deverá ter um plano estratégico de acção ambiental para o concelho, que identifique os principais objectivos e necessidades do município a nível ambiental e a melhor forma de os satisfazer.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

HÁ FOME EM PORTUGAL(?)


Cavaco acaba este seu mandato como o começou, com grandes preocupações sociais, algo que não é difícil a qualquer político num país onde não faltam chagas sociais para exibir. Começou com o roteiro da exclusão e acaba com lágrimas de crocodilo chamando a atenção para a existência da fome em Portugal.

Há fome em Portugal? Há, que me recorde sempre houve e como a fome não é uma sensação colectiva para quem a tem é sempre dolorosa independentemente de serem cem mil ou trezentos mil portugueses a terem falta de algo para comer. Ao falar de fome, ou melhor, da existência de fome Cavaco tem razão, só que parece que o candidato presidencial só parece preocupar-se com o problema da fome quando não tem poderes para ajudar a combatê-la e apesar das muitas promessas a única ajuda que deu para a evitar parece terem sido uns artigos que escreveu há uns anos atrás.

Acontece que no seu último mandato como primeiro-ministro também houve muita fome, havia fome no Vale do Ave, havia fome na região de Setúbal, havia fome num Alentejo desprezado pelos seus governos e que foi atingido por uma seca que obrigou mesmo a operações de ajuda alimentar. Nessa altura vivia no Alentejo e a governadora civil de Setúbal deu instruções às escolas para contratarem alguns funcionários com contrato a prazo, em particular foi feita a sugestão de se dar prioridade a eleitores do PSD.

Foi o tempo das bandeiras negras, das crianças a desmaiar na escola com fome, dos salários em atraso, e o que fez Cavaco Silva? Nada, deixou o governo com um défice de 8%, lançou a governação do país numa grande confusão com o seu tabu da candidatura presidencial, atirou Fernando Nogueira aos lobos e foi preparar a sua ambicionada ascensão a Presidente da República, felizmente os portugueses tiveram nesse tempo a sabedoria que não parecem ter hoje, dispensaram os seus serviços.

De então para cá Cavaco parece ter enriquecido, deixou a velhinha Vivenda Mariani e construiu uma nova vivenda bem mais luxuosa, ganhou uns dinheiros com um negócio obscuro de acções que nunca foi bem explicado e muito menos investigado por quem de direito e acumulou pensões. Reapareceu, entretanto, com grandes preocupações, incomodado por haver fome, transvestido num presidente cheio de grande sensibilidade social.

Mas Cavaco pode ficar descansado, os seus não só não passaram fome como estão ricos, enriqueceram com os milhões de contos do Fundo Social Europeu e outros fundos comunitários tão mal geridos pelos seus governos, enriqueceram com os milhares de milhões de euros roubados no BPN em créditos mal parados, negócios de acções e outras manobras obscuras para delapidar o dinheiro alheio.

Se a direita portuguesa não fosse tão miserável teria escolhido outro candidato presidencial, a escolha ou rejeição de Cavaco Silva para o cargo de Presidente da República é mais do que um problema de carácter político, é um problema de memória. Um país que escolhe tal presidente até parece estar com a doença de Alzheimer, esqueceu tudo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O RELATÓRIO "PISA" E OS QUE PREFEREM PISAR O PAÍS...


No meio de tantas más notícias e sabendo-se que uma das causas das nossas dificuldades se encontram no ensino foi agradável saber que um relatório da OCDE conclui que o ensino em Portugal deu um pulo qualitativo significativo nos últimos anos, sendo esta evolução medida pela avaliação dos conhecimentos dos alunos em diversos domínios.

Pouco me importa quem ganha ou perde eleitoralmente, da mesma forma que não avalio eleitoralmente os sucessos de muitas empresas portuguesas, o trabalho meritório de muitos portugueses, sejam serralheiros, escritores, políticos ou portugueses, é destes resultados que se faz o progresso e quando for caso disso saberemos avaliar o trabalho dos governantes, neste como em muitos outros domínios.

É evidente que a fixação dos professores, que a crescente competência dos que gerem as escolas, o empenho dos profissionais do sector são factores determinantes para este sucesso. Da mesma forma que também o foram a aposta no sector, o esforço no combate ao abandono escolar, os investimentos na renovação do parque escolar, a introdução de novas tecnologias nas escolas, as reformas feitas no sector ainda que algumas tenham sido feitas de forma atabalhoada.

O importante agora é que se perceba que foi possível melhorar de forma significativa e que o potencial do que se pode melhorar ainda é muito grande, basta olhar para o ranking das escolas para se perceber que com recursos idênticos as assimetrias nos resultados são ainda muito grandes, muito para além do que se pode explicar como consequência de assimetrias económicas, sociais ou de natureza urbana ou geográfica.

Mas se o estudo serviu para mostrar que ocorreram melhorias significativas no ensino, também pôs em evidência a miséria humana que por grassa, demonstrando que há neste país muita gente mais empenhada que se vá ao fundo do que no seu progresso. Algumas posições que ouvi roçam o miserável, desde um conhecido sindicalista dos professores a um conhecido professor blogger. Mas se os que falaram despudoradamente puseram a miséria à vista, o mesmo se pode dizer de alguns silêncios, personalidades que nunca perderam a oportunidade para desqualificar o ensino e as políticas governamentais do sector.

Recordo-me, por exemplo, das acusação de facilitismo sucessivamente feitas por Pedro Duarte, o deputado do PSD que habitualmente representa este partido nas questões da educação, de Santana Castilho que nos seus artigos no Público ou nos seus comentários televisivos sempre tomou posições que a serem válidas Portugal estaria no fim da lista da avaliação da OCDE, e de muitas outras personalidades que não perderam uma oportunidade para achincalhar o ensino em Portugal até mesmo Manuel Maria Carrilho na sua primeira entrevista a Mário Crespo depois de regressar de Paris optou por desancar no ensino. A excepção a este comportamento miserável foi António Nogueira Leite que se despiu de opções partidárias e teve a coragem de elogiar os resultados.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mudança de epígrafe


Pouco importa que Passos Coelho se desdiga agora — até porque esse péssimo hábito está muito arreigado nele. A malograda Dr.ª Manuela que o diga. Neste contexto, chegou a altura de substituir a epígrafe. Apaga-se esta:
    O Governo tem estado bastante bem nas respostas que tem encontrado para a crise financeira, que, de resto, não são respostas muito originais, são concertadas ao nível europeu, mas que têm funcionado bem em Portugal. - Passos Coelho (10.12.2008)
A nova epígrafe é a seguinte:
    Olhando para os quatro governos individualmente, o maior aumento na despesa veio durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes: 0,48% por ano. Segue-se-lhe o governo de Cavaco Silva com 0,32%, António Guterres com 0,31%, e por fim José Sócrates com um aumento de apenas 0,14%.Ricardo Reis, professor de economia na Universidade de Columbia
Quando tanto se fala de despesa pública, é bom avivar as cachimónias.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

OU HÁ EUROPA OU COMEM TODOS!...


Nestes últimos tempos a Europa tem dado uma péssima imagem de si própria mostrando que deu os maiores passos no sentido da integração económica com as piores lideranças desde a sua fundação. Não só tem sido capaz de dar uma resposta que faz perigar não só o euro mas também todo o processo de integração europeia, como evidenciou que não existem nem valores nem solidariedade europeia.

Veja-se o que sucede com a Irlanda, em vez de receber solidariedade dos seus parceiros Europeus foi alvo de pressões para pedir ajuda, uma ajuda paga a juros altos e dada a troco da intromissão na política económica portuguesa. Em vez de serem solidários com os irlandeses os parceiros europeus limitaram-se a afirmar que cada um nada tinha que ver com os problemas da Irlanda, até por cá não houve gato pingado que não afirmasse que estamos melhor do que os irlandeses.

Foi preciso os especuladores começarem a virar a sua atenção para a Espanha para que se ouvissem governantes espanhóis virem defender a economia portuguesa, mas de forma vergonhosa como do costume, dizendo que estamos melhor do que os irlandeses. Foi também preciso a Espanha começar a estar no centro das atenções para a linguagem dos mais poderosos da Europa começar a ser menos dura com os supostos faltosos, todos sabem que a seguir à Espanha seguir-se-á a Itália e quando isso suceder é o progresso económico da Europa e dos que mais ganham com essa Europa que estará em causa.

No actual contexto europeu a única forma de reequilibrar as contas públicas e a balança comercial é promovendo o empobrecimento dos portugueses e a seguir a cada vaga de desarmamento pautal ocorrerá mais uma perda de competitividade para a qual Portugal não terá resposta. Com os portugueses cada vez mais pobres e com uma economia incapaz de se modernizar entra-se num circulo vicioso de empobrecimento.

O processo de integração económica na Europa está a gerar desigualdades crescentes numa Europa cada vez menos coesa, o euro é cada vez mais o marco e a zona monetária do euro é gerida em função dos interesses estratégicos de uma Alemanha cada vez mais solidária, principalmente em relação aos países do sul e desde o fim da “cortina de ferro”.

Estarão os países do Sul da Europa dispostos a ver a poupança dos seus cidadãos serem investidas nos bancos e na dívida pública alemã, a manter a livre circulação de mercadorias favorecendo a importação dos produtos alemães e a sujeitar-se ao aumento do custo do crédito porque o governo alemão adopta uma estratégia supostamente em defesa dos seus contribuintes?

A primeira consequência das políticas de austeridade adoptadas pelo governo português será o aumento das assimetrias na distribuição do rendimento, isto é, os mais ricos terão mais dinheiro para comprar bens de luxo importados, principalmente viaturas de luxo alemãs , bem como para colocar as suas poupanças no mercado financeiro europeu para financiarem o crescimento da economia alemã, à qual são cobrados juros bem mais baixos dos que os exigidos às economia do sul.

Até quando Portugal e outros países terão de pagar a factura de um euro convertido em marco e o oportunismo económico da Alemanha?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VEJAM COMO SE FAZ GREVE!...


A Auto- Europa vai aumentar os salários dos seus trabalhadores em 3,9%.

Num panorama de cortes gerais de salários, este aumento pode surpreender muita gente, mas não quem perceba que é o modelo de gestão ( bem diferente do adoptado pelos gananciosos empresários portugueses) a consciencialização dos trabalhadores e dos sindicatos que está na base do sucesso da empresa.

Teria sido fácil à administração da Auto-Europa fazer como os nossos empresários e, escudando-se com a crise, rejeitar o aumento de salários ou tentar pelo menos um aumento ao nível da inflação. Não o fez.

Teria sido cómodo, para os trabalhadores da Auto-Europa, não aderir à greve, argumentando que as práticas seguidas pela empresa não justificavam a greve. No entanto, os trabalhadores aderiram à greve em massa, invocando a solidariedade com os trabalhadores de outros sectores e familiares que estão a ser vítimas da política seguida por este governo.

O direito à greve e à não greve é essencial para o funcionamento de uma democracia e cada um deve agir de acordo com a sua consciência. Agora, o que é inadmissível, é que haja pessoas com lata de ir para as câmaras de televisão dizer que estão solidários com a greve, mas não a fazem, porque isso representaria a perda de um dia de salário. Ou quem utilize as mesmas câmaras para afirmar que os grevistas são calaceiros. Gente desta não devia ter direito a votar, porque não percebe nada da sociedade em que vive e, assim sendo, quando mete o voto na urna, está a votar apenas num clube e não num modelo de sociedade que pretende para o país.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

COMBATER A EPIDEMIA!...


Manual Prático de Prevenção do Novo Vírus da Dívida Soberana (edição especial para Governos de países endividados do Sul da Europa, revista e adaptada ao caso português):

Principais Sintomas:
  • Juros da dívida com temperatura superior a 7%;

  • Dificuldades de financiamento

  • Orçamentos restritivos;

  • Recessão

  • Irritação social podendo, em certos casos, ocorrer Greve Geral;

  • Ministros com pensamento desconexo e sinais evidentes de desorientação.

Medidas e Orientações para elaboração de Planos de Contingência:

  • Lavar frequentemente as mãos. A crise? Eh pá, não fomos nós. Não temos culpa nenhuma disso! Invocar sempre um brilhante track record de saneamento das contas públicas. Não esquecer de mandar um Postal de Boas-Festas ao Constâncio. Escovar também as unhas!

  • Tossir e espirrar para cima de toda a gente. Responsabilizar sempre terceiros pela má governação. A eficácia será maior se forem identificados vários responsáveis alternativos: a Oposição, os Mercados, a Situação Internacional, o Aquecimento Global, o Ruca e a Barbie, o Míldio da Videira, o Nemátodo do Pinheiro ... Está na hora de apelar à criatividade.

  • Manter distância de países infectados. Salientar a enorme diferença que existe entre a nossa situação e a de outros países que já foram contaminados. Semelhantes à Irlanda, nós? Por amor de Deus! Os irlandeses são todos ruivos, senhores. Assobiar para o ar na presença de um Grego. Mudar de passeio perante a aproximação de um Espanhol.

  • Utilizar máscara de protecção. O vírus da dívida soberana transmite-se sobretudo pelos olhos. A máscara deve impedir por completo que se veja a realidade. Isso mesmo: convém não ver nadinha. É um bocadinho desconfortável, não é? A nossa saúde está primeiro!

  • Evitar alarmismo na sociedade. Não se pode estar sempre a falar na crise da dívida, que diabo. Ò Amado... outra cimeirazinha da Nato em Dezembro é que era. Vê lá se consegues, pá. Isso mesmo. Diz ao Obama que já chegaram os blindados.

  • No caso de ocorrerem sintomas, jamais contactar a linha FMI 24. É que nem pensar! Eram bem capazes de dar baixa ao Governo e a malta quer é trabalhinho. Em geral, recusar qualquer tipo de ajuda. Nós cá nos vamos governando.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

UM EXEMPLO A SEGUIR!?...


Ao que parece a política económica adopta por Teixeira dos Santos é a política do exemplo, antes de sugerir medidas ao sector privado testa-as antes na Função Pública, é esta a conclusão a que se chega depois de o ouvir sugerir contenção salarial, propondo às empresas que sigam o exemplo dado pelo Estado.

O mesmo ministro que há poucos dias vertia lágrimas de crocodilo pelos cortes dos rendimentos de alguns funcionários públicos, justificando-os com a imposição de reduzir um défice que ele ajudou a descontrolar-se, assume agora a premeditação desses cortes, considerando-os um exemplo dado ao sector privado.

Esta postura oportunista de Teixeira dos Santos coloca dois problemas, o primeiro é saber quais as próximas medidas que vai impor ao Estado para que sirvam de exemplo ao sector privado, a segunda é compreender como é que este sector vai imitar a incompetência de Teixeira dos Santos reduzindo o rendimento dos seus quadros mais qualificados.

Teixeira dos Santos pode adoptar cortes salariais segundo critérios de oportunismo eleitoral pois deixará de ser ministro, não terá de assumir a responsabilidade pelas consequências da sangria de quadros do Estado. Mas as empresas estão sujeitas a regras de convivência a que o ministro não está sujeito, desde logo existe leis laborais, mas também existe a necessidade de gerir com bom senso sob pena de destruir as empresas. Teixeira dos Santos pode destruir o Estado, pode promover reestruturações e reformas falhadas, se os empresários portugueses tivessem seguido como exemplo o de Teixeira dos Santos muitas das nossas empresas não sobreviveriam.

Teixeira dos Santos tem adoptado justificado muitas das reformas do Estado como sendo uma aproximação às regras que existem no sector privado, só que essa aproximação só é feita quando daí resultam poupanças, tudo o que de bom existe no sector privado, quer em regalias , quer em modelos de gestão, é ignorado. Depois de ter destruído o Estado Teixeira dos Santos inverte o sentido da aproximação e sugere aos empresários que sigam o exemplo da sua incompetência, dos seus valores menos democráticos e da falta de consideração pelos trabalhadores.

O ministro das Finanças é que deveria seguir um exemplo muito comum no sector privado, enquanto gestor incompetente já devia ter apresentado a demissão.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

TIGRES JOVENS OU JOVENS TIGRES DA NOSSA POLÍTICA...


Se há algo que caracteriza o actual poder é o domínio de uma nova classe de “jotas” que já não correspondem aos habituais militantes das juventudes partidárias, esses ficam-se pelos gabinetes de assessores dos autarcas e pelas empresas municipais. Nos gabinetes ministeriais impera uma outra classe de “jotas” diria mesmo de jotas mais finos que ascendem ao poder impulsionados pelas raízes de poderosas árvores genealógicas, pelos laços de amizade criados nas universidades, nas consultoras ou nos escritórios de advogados onde estagiaram.

Estes jovens tigres são inexperientes, deslumbrados com o poder e mordomias dos gabinetes ministeriais, num dia andavam a comer sopas, no outro andam de BMW com motorista, num dia ganham mil euros num escritório de advogados onde desempenham as tarefas rotineiras, no outro são distintos adjuntos de secretários de Estado ou chefes de gabinete. Sem experiência, ávidos de poder e com um profundo desprezo pela Administração Pública tem como único objectivo fazer currículo e regressar aos escritórios e consultoras com direito à promoção.

Cheios do poder que vem dos laços familiares, da amizade do ministro ou do secretário de Estado ou da passagem pelo núcleo duro de apoiantes do primeiro-ministro têm um profundo desprezo pela hierarquia da Administração Pública, para eles o que conta não é a competência ou a defesa dos interesses do Estado, é o poder que cada um tem e a capacidade de usar a informação dos serviços para influenciar a opinião pública. Se o povo está descrente procuram-se indicadores de sucesso, se o povo está revoltado fazem-se fusões e saneamentos e exibem-se os culpados, estes jovens tigres são uma versão moderna e liberal dos antigos guardas vermelho da revolução cultural de Mao.

Alguns são bem sucedidos e chegam mesmo a secretários de Estado depois de uma passagem como assessores de Sócrates ou chefes de gabinete do ministro, é o que sucede no ministério das Finanças, cheio de gaiatagem agressiva onde Teixeira dos Santos parece o pai da malta. E pelo que dizem esta é uma realidade comum a muitos gabinetes ministeriais, estão cheio de jovens tigres visionários convencidos de que por serem filhos ou genros de Guilherme Oliveira Martins ou porque por terem tomado o pequeno-almoço com Sócrates são detentores do dom da competência ilimitada e de um poder que não emana de um regime democrático mas sim do facto de pertencerem à corte de um vencedor de eleições.

O risco de levarem o PS a uma derrota humilhante nas próximas legislativas não os incomoda muito, a uma boa parte deles tanto faz que governe o PSD como o PS e quando mudar o governo regressarão às consultoras e escritórios de advogados onde serão promovidos em sinal de gratidão pelas encomendas de falsos estudos que fizeram ou pelas leis simpáticas para os negócios que ajudaram a adoptar. Exibirão nos seus currículos os elevados cargos que desempenharam sem que neles conste a incompetência que promoveram.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sua Eminência Ricardo Salgado Esprit do Santo injecta confiança nos mercados


Enquanto ouço António Variações tento compreender as explicações dadas por sua Eminência Ricardo Salgado Espírito Santo ante uma jornalista que nada percebe de economia e muito menos de finanças, e o resultado é que a economia nacional vive o melhor momento de sempre. Vejamos alguns indicadores re-doutrinado por Sua eminência: a recessão prevista para 2011 é uma treta; as agências de rating uma farsa; a banca portuguesa, globalmente, está bem e recomenda-se, os políticos têm é que se entender. Grosso modo, nem se percebe por que razão a entrevista a Ricardo tem lugar, já que os indicadores económicos nacionais são eficientes. Neste quadro, só uma coisa me assaltava o espírito enquanto via a mestria excepcional com que Ricardo administrava a sua calma funcional ante uma jornalista que percebe tanto de finanças como eu de lagares de azeite: e do que me lembrava, dizia, é que se Anacleto Louçã fosse o entrevistador, qual mastim, aquela entrevista terminaria com cenas de pugilato. O que seria uma novidade na vida da República, mas que se traduziria automaticamente numa baixa de credibilidade do nosso rating por parte das agências da gula. O que agravaria ainda mais os dados da eqação na economia portuguesa, por isso mandaram a dona Judite. Quanto ao BES-instituição é assim, uma face de janus, olha a Oriente e a Ocidente at the same time. Está bem e recomenda-se, pois até o bronco do Cristiano ronaldo funciona como start-up publicitário do marktório do banqueiro do regime, deste e de todos os regimes: pós e pré-25 de Abril. Uma marca da casa. Se cada um de nós fosse um E.T. e aterrasse, de súbito, na Av. da Liberdade perceberia que Portugal é o melhor dos mundos possível, por isso é o melhor sítio do mundo para investir, gerar riqueza, viver e fazer meninos. No fundo, foi isto que Ricardo nos disse. Era, aliás, esse a sua missão. Porque o que é bom para o Bes é bom para o governo e para todos nós. Daí a injecção de confiança dada por Ricardo no rabinho dos tugas. E muitos acreditarão!!! Restando saber quantos de nós se consideram ETs...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

HÁ MAIS ECONOMIA PARA LÁ DO DÉFICE


São políticos, ex-ministros, comentadores, governantes, jornalistas, enfim, muitas dezenas, senão mesmo centenas de grandes, médias, pequenas e pequeninas cabeças a reflectirem sobre a crise, eu diria que sobre mais um patamar da crise em que Portugal vive há décadas.

Quase todos eles se concentram na dívida e no défice públicos como se este fosse o nosso grande problema, todos propõem soluções que mais não são do que atirar um par de barbatanas a alguém que não sabe nadar e se está a afogar. Os ex-ministros batem-se num concurso cujo prémio vai para aquele que propor as medidas mais duras, Cavaco Silva tornou sincronizou as suas ambições com a negociação orçamental e para que ninguém duvidasse de que reuniu o Conselho de Estado de boa fé até se serviu das tecnologias de bolso de Eduardo Catroga.

Os mesmos que criaram mediadores de crédito e controladores financeiros são agora campeões de uma nova modalidade radical praticada pelos putos governamentais como o Castilho o tiro ao chefe da Função Pública. O país está a entrar numa espiral de demagogia e esquece que o grande problema não está apenas no que se gasta, está acima de tudo no que não se produz.

Ninguém se preocupa por o mundo estar à beira de mais uma crise alimentar com os preços dos cereais a subir, aumento de preços que acarretará aumentos dos preços na generalidade dos produtos agrícolas, começando pelos sectores das carnes que mais não são do que cereais transformados e dos lácteos, até no sector do açúcar há sinais preocupantes com as perdas na produção brasileira a que no caso da Europa se junta um erro de previsão digno da loura das anedotas que Teixeira dos Santos contratou para fazer as contas do seu ministério. No mercado do petróleo os sinais também não são os melhores, a tendência é de alta e se a economia americana crescer é certo e sabido que os preços subirão, isso se antes não vier um inverno rigoroso no hemisfério norte que desencadeie um aumento da procura no hemisfério norte.

O grande problema da economia portuguesa está na sua incapacidade de aumentar a riqueza e isso consegue-se exportando mais e produzindo mais daquilo que se importa. E para se produzir mais devem criar-se condições favoráveis à actividade das empresas.

Portugal perde demasiado tempo a ouvir Teixeira dos Santos e tem um ministro da Economia que não vale a pena ouvir dando lugar a muitas saudades de Manuel Pinho, um ministro que foi obrigado a demitir-se porque se fartou das traquinices parlamentares de um deputados que desde que nasceu tem carteira profissional de deputado.

Por aquilo que ouço o governo aposta mais na exportação de chefes de serviços públicos enlatados em azeite do que em produtos transaccionáveis em que os nossos parceiros comerciais estejam interessados. Aposta mais em comboios que nos permitam fugir mais depressa do país do que em infra-estruturas por onde possam ser escoados os nossos produtos. Aposta mais em poupar uma mão cheia de figos com a extinção de serviços públicos do que na melhoria da sua prestação ao nível das trocas comerciais.

Só se lembram das exportações no momento em que dá jeito criar cenários optimistas para fundamentarem previsões de crescimento económico em que ninguém acredita. Mas mesmo neste capítulo tudo assenta no optimismo em relação à procura externa, nem uma medida ou uma decisão que revele preocupação com a competitividade das empresas.

PS:

Independentemente da falta de competência e visão dos nossos políticos, sejam eles do PS, PSD, CDS-PP e economistas/opinadores encartados, entre os quais alguns banqueiros, que andam a fingir que não vêem o que se está a passar, estamos a assistir a um verdadeiro ataque interno à carteira dos contribuintes desta espécie de país e ao estômago dos que não podem contribuir… são os bancos portugueses que estão a fazer especulação na compra de dívida pública:


Já não há bancos estrangeiros a comprar a dívida soberana portuguesa


Querem tirar lucro máximo antes da chegada dos chineses que se propõem comprar dívida soberana portuguesa e da chegada do FMI, que estão a provocar e para a qual não têm qualquer estado de alma, apesar das declarações de Salgado ou Ulrich sobre a necessidade e vantagens da viabilização do orçamento de estado.

Um tal ataque só deveria ser denunciado por um movimento de todos os portugueses que têm contas nesses bancos, que deveriam fechar essas contas e abrir outras em bancos estrangeiros ou em bancos nacionais que não estejam a especular…

Não há dinheiro, nos bancos nacionais, para emprestar às empresas e famílias ainda soldáveis e dinamizar a economia real, mas há dinheiro, emprestado pelo BCE a 1%, para levar o país e os portugueses à falência, com juros a chegar aos 7%!…

Isto também deve saber-se:

Os bons negócios da PT só interessam aos accionistas... os portugueses só pagam as facturas!...

Nunca nenhum estado social será viável, mas é isso que se pretende… nunca o ataque foi tão flagrante!…

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NÃO HÁ BONS ORÇAMENTOS!...


Não tenho memória de alguma vez os analistas terem chegado à conclusão de que um Orçamento de Estado era bom, não só não há orçamentos bons como falar mal de um orçamento é sempre melhor para as audiências do que elogiá-lo. Desde que me lembro que os orçamentos são deficitários e a divida pública crescente, podem ter ocorrido algumas reduções do défice e da dívida, designadamente, na fase de preparação da entrada no euro.

Os orçamentos só foram simpáticos quando precedem eleições legislativas, o grande mestre na utilização dos orçamentos para conseguir objectivos eleitorais foi um senhor que mora ali para os lados de Belém e que por aquilo a que assistimos no último mês não perdeu a prática. Só que em vez de manipular a opinião pública com aumentos oportunos da despesa, agora manipula-a gerindo uma crise política artificial em torno dos orçamentos.

Se os orçamentos costumam ser maus a sua execução costuma ser pior ainda e como se isso não bastasse só sabemos as verdades orçamentais muito depois de aprovado o próximo orçamento, isto é, decide-se o défice do ano seguinte com base em previsões erradas ou mesmo falsas em relação ao ano anterior. Neste capítulo o campeão dos orçamentos com pressupostos errados é Teixeira dos Santos e os seus betinhos dos gabinetes do ministério das Finanças, desde que lá estão que não acertaram numa única previsão.

O período que medeia entre a aprovação de um orçamento e a execução do seguinte são dois meses de aldrabices contabilísticas, que vão desde o disfarçar da despesa pública à antecipação de receitas do ano seguinte através de manobras como, por exemplo, o atraso no reembolso do IVA. Manuela Ferreira Leite chegou a inventar fraudes no IVA para suspender os reembolsos do IVA nos últimos meses do ano em que foi ministra. Teixeira dos Santos foi mais original e no ano passado permitiu o pagamento de impostos de 2008 nos primeiros dias de 2009, um truque para arrecadar em 2009 mais uns milhões por conta de 2008. O resultado é que nos orçamentos deveria haver uma verba especial, a correspondente às mentiras do ano anterior.

Depois de ser aprovado o orçamento para 2011 ouvem-se algumas vozes alertando que agora o importante é que o orçamento seja mesmo executado, um reflexo do trauma dos falsos PEC. Desta vez, finalmente, Teixeira dos Santos vai finalmente executar um orçamento como deve ser, não reduziu significativamente nas despesas do costume, mesmo em relação a um ano de abusos, e as grandes medidas de corte na despesa obrigam apenas a alteração dos parâmetros dos programas de gestão dos vencimentos e impostos dos funcionários públicos. O falhanço poderá vir das receitas fiscais em consequência da evasão fiscal que não foi combatida nos últimos anos, da desorganização da máquina fiscal resultante de uma fusão idiota e desnecessária da DGCI com a DGAIEC, do fim do sucesso da recuperação das dívidas ao fisco e, principalmente, da incompetência dos betinhos que tomaram conta da secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais.

Não há bons orçamentos, o que de vez em quando há só bons ministros das Finanças. Em 2011 não teremos nem uma coisa, nem a outra.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

PADRES E PADRES, IVA E MAIS IVA EM QUE FICAMOS....


Em Coimbra, a “primeira-dama” ficou a conhecer trabalho da associação Integrar na integração social da população mais desfavorecida
De visita à quinta pedagógica da associação Integrar, Maria Cavaco Silva revelou que, nos últimos dias, tem recebido queixas de muitas instituições particulares de solidariedade social (IPSS) preocupadas com o ponto do Orçamento de Estado para 2011 que impede as IPSS que não sejam da Igreja Católica de pedir o reembolso do IVA. «Há uma grande angústia», sublinhou a “primeira-dama”, alertando para a possibilidade de muitas unidades terem de interromper o trabalho que estão a realizar, se deixarem de receber os valores relativos aos impostos pagos na aquisição de material diverso.
«Temos de ter noção como será o nosso país sem estas instituições. Espero que seja boato», frisou Maria Cavaco Silva, revelando também preocupação com a actualidade e o impasse relativamente à aprovação ou não do Orçamento de Estado. «Mas, não devo entrar por aí», disse, no final da visita ao Centro de Actividades Ocupacionais e quinta pedagógica Joaninha Sabe Tudo.

Medida “injusta e desonesta”
Antes, o presidente da direcção da Integrar tinha manifestado aos jornalistas as implicações da medida proposta pelo Ministério das Finanças. Depois de, em 2009, a associação ter sido reembolsada de mais de mil euros relativos a pagamentos de IVA, tudo indica que, em 2010, as IPSS fora da Igreja fiquem privadas desta possibilidade, criticou Jorge Alves, depois de, já esta semana, o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social, o padre Lino Maia, ter classificado a medida de «injusta e desonesta».
In Diário de Coimbra

Esta noticia está aqui neste blogue e com link, porque acho intolerável a ser verdade isto do IVA.
Será possível que quem ajuda e se coloca no o papel do estado para cumprir o estado social, não seja ressarcido do IVA?
Será que num estado laico as medidas ou direitos tem de ser diferentes para as IPSS da Igreja e as IPSS Laicas?
Será que é na igreja que está a ajuda no país?
Então se fecharem as IPSS Laicas como é que o país fica?

Quanto a mim a medida esta medida está errada porque as IPSS vivem com grandes dificuldades, isto porque nestes momentos de crise muitos não podem pagar as mensalidades, mas as pessoas não são abandonadas como o estado ou melhor os serviços públicos e camarários quem não paga não "manduca", e exemplos desses temos mesmo na autarquia da Mealhada.
E no concelho da Mealhada nem sei se há alguma IPSS que seja da igreja, só se for a Santa Casa na Mealhada, mas, o Peres não o vejo na igreja nem ao domingo, só se for mesmo por der dono da capela de Sant'Ana e São Sebastião, porque mais de resto nada tem a ver com a igreja, até um pouco pelo contrário porque a Santa Casa é gerida como uma empresa, que não condeno mas, deixa muito a desejar na solidariedade social.
Então o que resta a este governo ou são todos reembolsados ou então não há nada para ninguém...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DEMAGOGIA DE BORLA


No seu discurso de ontem, Cavaco Silva quis convencer o País que fez ou poderia ter feito alguma diferença na resolução dos problemas que enfrentamos. A diferença que podia ter feito foi há muitos anos, quando nos governou. Agora, como se vê no impasse da negociação do Orçamento, é carta que não conta.

Na sua intervenção, saltou à vista um pequeno truque. Daqueles que mostram que a demagogia nem sempre se serve aos gritos. E Cavaco Silva é mestre em usá-la em sussurro. Anunciou que terá uma campanha barata. Até aí, tudo certo. Deviam ser todas. Mas acrescentou que não colocará cartazes. Porque os tempos não estão para isso. Cavaco Silva sabe que as pessoas olham para as campanhas eleitorais como um desperdício e explora a coisa.

A decisão não espanta. Se olharmos bem para agenda do Presidente da República, Cavaco Silva está em campanha há mais de um mês. Multiplica-se em visitas e declarações. Não o faz como candidato, mas o resultado é exactamente o mesmo: aparece diariamente na televisão. Ninguém o pode condenar por isso. Mas a verdade é que a sua campanha é paga pelo Estado e não entra na contas da campanha. Cavaco Silva dispensa os cartazes porque aparece no mais importante de todos: os televisores dos portugueses. Não precisa de se dar a conhecer porque é o Presidente em exercício. Não precisa de se bater pela visibilidade pública porque é Chefe de Estado. Ao lançar esta cartada, quase como um desafio (não se limitou a decidir gastar pouco, anunciou-o e deu-lhe destaque), pede aos outros que, acompanhando-o, fiquem numa posição de inferioridade nas eleições.

É que se fosse uma questão de princípio, Cavaco Silva teria feito isto quando não tinha a vantagem de ser Presidente. Não foi o caso. Ele e Mário Soares gastaram em 2006 mais de três milhões de euros. O triplo do que gastou Manuel Alegre; quatro vezes mais do que Jerónimo de Sousa; sete vezes mais do que Francisco Lousã; e quase 150 vezes mais do que Garcia Pereira. Aí sim, o desafio seria interessante. Agora, é apenas propaganda. E de borla.

Daniel Oliveira