terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL!...


Aníbal despertou cedo. Passara uma noite atribulada, acordando muitas vezes, sempre a pensar no mesmo. A ansiedade dominava-o.

Olhou para o despertador e viu que eram 7 horas. A seu lado, Maria ressonava ainda. Um fiozinho de baba escorria-lhe dos lábios entreabertos.

Aníbal resmungou qualquer coisa e virou-se para o outro lado, tentando readormecer. Era muito cedo e o Palácio estava frio como o caraças!

A austeridade obrigava a desligar os aquecimentos durante a noite e o nariz de Aníbal estava gelado. Da narina direita pendia uma estalactite de ranho transparente.

Passou mais meia-hora e o silêncio do quarto só era incomodado pelo ressonar de Maria.

Não posso mais, murmurou Aníbal e levantou-se de supetão. Uma tontura obrigou-o a sentar-se na cama com estrondo. Maria acordou, estremunhada.

Que foi isso, Aníbal? Estás a sentir-te mal?

Não consigo dormir mais, resmungou ele.

Mas são só sete e meia da manhã! Está toda a gente a dormir ainda!

Quero lá saber, ripostou Aníbal. Tenho que ir ver as prendas no sapatinho! O que será que o Menino Jesus me deu este ano?!

E Aníbal acabou por se levantar, vestiu o roupão e chinelou em direcção à cozinha do Palácio.

Desde pequenino que gostava de manter a tradição do sapatinho na chaminé e não era agora, que era uma Pessoa Importante, que ia mudar.

Contrariada, Maria chinelou atrás dele.

Chegou a tempo de ouvir um pequeno urro.

Debruçado sobre o sapato de pála, Aníbal examinava a única prenda que lá tinha, com ar apreensivo.

Já viste isto, exclamou Aníbal, com voz rouca – Só tenho esta prenda do Oliveira e Costa: acções do BPN!

Sacana do Menino Jesus!
O coiso...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Crónicas anti-Cavaco (1): Ali-Babá


Nenhuma das pessoas que conheço de cuja honestidade não subsistem dúvidas tem o mau gosto de afirmar a sua honestidade constantemente, nem mesmo quando gente menor tenta pô-la em causa. Sabe-se lá porquê Cavaco Silva que não é um propriamente uma pessoa desconhecida sente uma grande necessidade de afirmar a sua honestidade, principalmente quando de alguma forma se gente fragilizado num debate político. Quando está em dificuldades lá vem com o espantalho da sua honestidade, como se essa suposta qualidade pessoal se sobrepusesse ao valor de todos os adversários e o tornasse superior a eles, no pressuposto de que é mais honesto do que todos os outros.

Esta afirmação constante da sua honestidade assenta, antes de mais num conceito muito estrito de honestidade, para Cavaco a honestidade parece ser um conceito que envolve apenas atributos materiais, como se não andasse por aí muito boa gente honesta que está farta de ser desonesta, ainda que daí não tenham resultados quaisquer benefícios materiais. Na carreira política de Cavaco não faltam episódios que permitem questionar a sua honestidade, a forma como deixou cair Fernando Nogueira a troco de vantagens política nas eleições presidenciais que perdeu frente a Sampaio, o modo como explorou politicamente o boato das escutas a Belém lançado pelo seu assessor mais íntimo ou mesmo o aumento de pensões de gente muito pobre em vésperas de eleições legislativas não lhe trouxeram benefícios materiais, mas são bons exemplos de que a honestidade não se mede apenas em contas bancárias. Um outro bom exemplo da honestidade segundo Cavaco Silva foi a forma como se esqueceu das aulas na Universidade Nova e depois se livrou de um processo disciplinar.

Esta afirmação de honestidade de mistura com tiques autoritários e da afirmação de uma personalidade maior do que a dos adversários não é nova na política portuguesa e cala muito bem nos meios mais conservadores, foi uma estratégia seguida há décadas por Oliveira Salazar. Só que em relação ao ditador Cavaco Silva está em desvantagem, Oliveira Salazar beneficiou de vencimentos modestos enquanto Cavaco coleccionou pensões, Oliveira Salazar morreu sem património enquanto Cavaco tem uma luxuosa vivenda no Algarve que, diz-me quem a conheceu bem, está acima dos rendimentos de um professor universitário, Oliveira Salazar nunca protegeu bandidos que iam levando o país à falência enquanto Cavaco usou o estatuto de Presidente da República para afirmar a inocência de Dias Loureiro, Oliveira Salazar nunca ganhou com acções enquanto Cavaco beneficiou da estranha valorização de acções de um grupo que tinha um buraco financeiro da ordem dos quatro mil milhões de euros.

Se Ali-Babá me viesse dizer que sempre foi honesto e que os que roubavam eram os quarenta ladrões sentiria o mesmo que sinto quando ouço Cavaco afirmar a sua honestidade, pouco me importa se Cavaco é ou não honesto, enquanto ele esteve no poder foi o ver se te avias, gente da sua maior confiança que chegou a Lisboa com o estatuto de maltrapilhos usufruem de riquezas que as lições de economia de Cavaco Silva não conseguem explicar. Com tantos ladrões à volta de pouco me serviria saber que o coitado do Ali-Babá até era honesto.
Jumento

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ai a caridadezinha!…


Os pobrezinhos voltaram a estar na moda.

Na verdade, junto de uma certa classe alta, muito ligada à igreja católica, os pobrezinhos sempre estiveram na moda, sobretudo na quadra natalícia.

Mas agora, com a malfadada crise, toda a gente quer mostrar que ajuda os pobrezinhos.

Desde as várias instituições, há muito presentes na sociedade, como o Banco Alimentar, a Cáritas, a AMI, as Misericórdias, muitas outras se juntaram a esta onda de solidariedade. É o caso da Ajuda de Berço, presente nos átrios dos grandes centros comerciais, da EDP, que anda a recolher roupa, livros e brinquedos, e dos restaurantes, que agora guardam as sobras para os pobrezinhos, com o alto patrocínio do Aníbal de Boliqueime e Senhora.

E as escolas, preocupadas com as crianças pobrezinhas, cheias de fome, decidiram manter os refeitórios das escolas abertos, durante as férias de natal, para lhes poderem dar uma refeição quente.

Numa escola de Setúbal, segundo conta o DN, o refeitório esteve ontem aberto, esperando por 50 crianças esgalgadas de fome. Havia lasanha para todos.

Não apareceu ninguém.

Nem um puto pobrezinho e esganado de fome apareceu!

Agora, as sobras dos carenciados deverão ser distribuídas pelos pobres envergonhados da classe média, os quais, por sua vez, hão-de guardar as sobras para os da classe média-alta, e as sobras deste serão distribuídas pelos ricalhaços, que a darão, finalmente, aos pobrezinhos, assim fechando o círculo da caridadezinha que se instalou neste país com cheiro a sacristia.

Mas havemos de acabar com os pobres, porra!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

RECORDANDO SOPHIA...



A primeira vez que ouvi falar em Sophia de Mello Breyner era criança. Tinha em casa uns livros dela que li, mas confesso que não me lembro quais fossem. Diziam-me que eram muito bem escritos, que em Portugal, ao contrário de outros países como a Inglaterra, a literatura infantil não era grande coisa, mas que Sophia era um oásis nesse deserto. Poderia ser que sim, mas havia poucos livros infantis de que me recordo ter gostado realmente.Do que me lembro, o seu nome foi referido com o maior respeito. Era uma poetisa, uma verdadeira.
Do que conheço, lembro-me apenas de uns lugares comuns, o que só vai em meu desfavor e não dela.

Também não gosto de falar de autores contemporâneos, ou em geral de pessoas contemporâneas, porque sei que isso suscita o discurso de ódio em que nunca se discutem ideias, mas apenas gostos e desgostos sem fundamentação, o que sempre achei pobre. Salientar alguém que nos é contemporâneo pode sempre gerar o “a contrario”: “se ele não fala desta e daquela pessoa é porque as acha medíocres”. O que é uma generalização apressada, mesmo que em algumas situações possa ser justa.

Mas por mais que se queira, quando um conjunto de pessoas, cuja opinião respeitamos, só nos diz bem de alguém, algum reflexo isso tem. No meu caso, começou por ser o da curiosidade. E quanto mais sei da pessoa, mais me suscita o respeito. E quanto mais vejo da obra, mais lhe admiro o estilo.
Amava a Grécia. É certo que não tinha a erudição de Hölderlin ou Goethe, mas isso diz muito das dificuldades culturais da época. Só quem andou procurando durante décadas livros das Belles Lettres e da Loeb (ou para quem pode, da Teubner) sabe como era difícil encontrá-los. Para além da velha Buchholz, nada havia em Portugal que os vendesse. Mas a sua ligação directa à terra permitiu-lhe intuir bem mais que muitos eruditos que fazem da filologia profissão. Despojada, apanhou mais de Arquíloco e Safo que muito estudante de filologia. Não era bem a terra que a inspirava, mas a capacidade de ver nela a ressonância das suas memórias. A sua ligação à Grécia era directa, menos intelectual, mas talvez por isso no seu caso muito vívida.

O seu estilo eleva-nos. Não é obrigatório que a literatura nos eleve. Pode-nos fazer cair no chão. Mas se se fica por nos deixar arrastar na lama, não nos dá a grandeza de Heráclito, mas apenas ar de pocilga. E a verdade é que é sempre mais difícil elevar que manter rasteiro.

O que mais me agrada nela é a ligação entre a personagem e a obra. A elevação não era um esforço, era uma tarefa inevitável. Nesse sentido era plenamente uma aristocrata, como sobram poucos, para a qual um mundo de evidências não limita, mas apenas enriquece. Uma problemática mal digerida apenas gera confusão. E não há criação sem certezas. Platão podia criticar Homero, mas não dita a sua existência.

Do que percebo, porque saliento que não sou especialista de Sophia, era a mesma elevação que a levou para a luta política. Conheci ao longo do tempo muitas pessoas do mesmo meio que lutaram contra os seus privilégios de classe, lutaram pelos outros, por uma concepção de justiça, sem terem nada a ganhar com isso. A luta do proletário pode ser justa, mas é forçosamente egoísta. Sei que está fora de moda, mas a luta do privilegiado contra os privilégios é sempre mais elevada.

Do que percebo, e nisso mais uma vez é uma personagem comovente, a sua história é uma repetição de um drama muitas vezes repetido ao longo dos séculos. É o segundo estado que toma a iniciativa de abdicar dos seus privilégios nos Estados Gerais da França pré-revolucionária, são aristocratas que proclamam os ideais igualitários da maçonaria e do iluminismo. A democracia ateniense é obra de três grandes aristocratas, Sólon, Clístenes e Péricles, e entra na grosseria quando o poder chega às mãos do povo recentemente promovido. E quando vemos a distância infinita que vai de um Churchill a uma Thatcher ou um Blair percebemos que a democracia mantém o seu viço quando não diz o seu verdadeiro nome, a de um regime misto.

Políbio e os estóicos elogiavam uma constituição mista de monarquia, aristocracia e democracia. Cícero acompanhou-os. Num mundo que se sentia velho, e tantas vezes o disse, é sinal de maturidade. O que dá esplendor a uma democracia é manter uma aristocracia e dela recolher uma figura humana que leva dezenas de gerações a produzir. Não é indo para a faculdade que se aprende o mais difícil e o essencial.

Parece que Sophia dizia que “o socialismo é a aristocracia para todos”. Conheço esse ideal, porque foi o que durante vinte anos me moveu. Por isso Platão me chocou durante anos, bem como a crítica que fazia à democracia ateniense e o monstro que pretendia gerar na sua genial, mas triste, República. Mas Péricles morto, e o poder na mão de oportunistas e demagogos, a ralé sem desejo de igualdade, mas apenas pretendendo ser mais que os outros, tiraram-lhes as ilusões. Nesse aspecto a herança iluminista é mais lúcida. Como dizia Voltaire, esse grande antecessor da democracia como se diz: “ a democracia é o governo da canalha”. Mera proclamação como tantas que fez, ou resultado de maior reflexão? Com Voltaire nunca se sabe. Os seus apreciadores correm sempre o risco de serem por ele desprezados.

A desilusão de Sophia com a vida parlamentar é um reflexo de todo o horror ao mecanismo que sempre caracterizou o aristocrata. Para o bem e para o mal. A subtileza jurídica, a rotina fora da ideia, a inércia de movimento são aspectos tristes e pouco expansivos da vida. O burguês domina-os melhor, e tanto melhor que assim seja.

O que me pergunto é se a mistura de Grécia, catolicismo e aristocracia, que gera pessoas de imensa elevação, não pode ser perigosa para os próprios numa democracia que desce à realidade chã e passa a ser dominada pelos denunciantes de Sócrates e pelos comerciantes de ideais, os que os invocam em proveito próprio e de mais ninguém. O que diria Sophia se visse o espectáculo actual? Pura especulação.

Não compreendo os facciosismos. Leni Riefenstahl fez o único documentário político de génio com o Triunfo da Vontade e a única reportagem desportiva que tem nome pleno de arte e que ainda hoje em dia influencia o jornalismo desportivo, mera glosa lateral da sua grande obra. Nem a I República nem o 28 de Maio tiveram obra digna desde nome que os cantasse. O 25 de Abril tem. “O dia inteiro e limpo”.

“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.“

Daqui a uns séculos será mais lembrado por quem o fez lembrar que pelo que aconteceu. Se nos preocupamos com os vencedores das Olimpíadas é Píndaro quem o conseguiu, não os atletas. Não me interessa saber se as pessoas são contra ou a favor do 25 de Abril, até porque à luz dos tempos nada é tão simples. Quem me disse bem de Sophia quando eu era criança era nuns casos forte opositor e noutros forte apoiante do regime salazarista. Essa grandeza de alma falta hoje muitas vezes na discussão no espaço público.

Hoje em dia achamos que é pieguice a ideia de um poeta imortalizar pessoas e eventos. Um duque de Saxe-Weimar que acolhe Goethe pôs Weimar no mapa do mundo graças a isso. Carlos Magno seria um pouco menos magno sem Alcuíno, ou Augusto sem Virgílio. E muita gente inteligente por esse mundo fora não perderia muito tempo com as Descobertas se não fosse Camões. Passámos da pieguice da omnipresença do criador, para a grosseria da sua ausência. Mas as obras que se guardam carinhosamente ao longo dos séculos não são relatos desportivos nem notícias sobre ministros. No desespero, na necessidade de escolha, e na medida do possível, são as grandes obras que se tentam salvaguardar. Tendo ido ao essencial, e tendo tentado viver o essencial, só posso ter o maior respeito pela obra e pela pessoa. E tenho pena que a democracia não a tome por modelo e prefira tomar por tal, não quem por ela se sacrificou, mas os seus beneficiários.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MEALHADA IMPLEMENTA AGENDA 21 LOCAL


A Agenda 21 Local do Município da Mealhada deverá estar pronta dentro de 18 meses. O documento que definirá o plano estratégico para o desenvolvimento sustentável do concelho vai começar a ser elaborado pelo Instituto do Ambiente e Desenvolvimento – IDAD da Universidade de Aveiro, que é parceiro da Câmara Municipal na implementação da Agenda 21 Local.

Dentro de aproximadamente ano e meio, o Município da Mealhada já deverá ter um plano estratégico de acção ambiental para o concelho, que identifique os principais objectivos e necessidades do município a nível ambiental e a melhor forma de os satisfazer.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

HÁ FOME EM PORTUGAL(?)


Cavaco acaba este seu mandato como o começou, com grandes preocupações sociais, algo que não é difícil a qualquer político num país onde não faltam chagas sociais para exibir. Começou com o roteiro da exclusão e acaba com lágrimas de crocodilo chamando a atenção para a existência da fome em Portugal.

Há fome em Portugal? Há, que me recorde sempre houve e como a fome não é uma sensação colectiva para quem a tem é sempre dolorosa independentemente de serem cem mil ou trezentos mil portugueses a terem falta de algo para comer. Ao falar de fome, ou melhor, da existência de fome Cavaco tem razão, só que parece que o candidato presidencial só parece preocupar-se com o problema da fome quando não tem poderes para ajudar a combatê-la e apesar das muitas promessas a única ajuda que deu para a evitar parece terem sido uns artigos que escreveu há uns anos atrás.

Acontece que no seu último mandato como primeiro-ministro também houve muita fome, havia fome no Vale do Ave, havia fome na região de Setúbal, havia fome num Alentejo desprezado pelos seus governos e que foi atingido por uma seca que obrigou mesmo a operações de ajuda alimentar. Nessa altura vivia no Alentejo e a governadora civil de Setúbal deu instruções às escolas para contratarem alguns funcionários com contrato a prazo, em particular foi feita a sugestão de se dar prioridade a eleitores do PSD.

Foi o tempo das bandeiras negras, das crianças a desmaiar na escola com fome, dos salários em atraso, e o que fez Cavaco Silva? Nada, deixou o governo com um défice de 8%, lançou a governação do país numa grande confusão com o seu tabu da candidatura presidencial, atirou Fernando Nogueira aos lobos e foi preparar a sua ambicionada ascensão a Presidente da República, felizmente os portugueses tiveram nesse tempo a sabedoria que não parecem ter hoje, dispensaram os seus serviços.

De então para cá Cavaco parece ter enriquecido, deixou a velhinha Vivenda Mariani e construiu uma nova vivenda bem mais luxuosa, ganhou uns dinheiros com um negócio obscuro de acções que nunca foi bem explicado e muito menos investigado por quem de direito e acumulou pensões. Reapareceu, entretanto, com grandes preocupações, incomodado por haver fome, transvestido num presidente cheio de grande sensibilidade social.

Mas Cavaco pode ficar descansado, os seus não só não passaram fome como estão ricos, enriqueceram com os milhões de contos do Fundo Social Europeu e outros fundos comunitários tão mal geridos pelos seus governos, enriqueceram com os milhares de milhões de euros roubados no BPN em créditos mal parados, negócios de acções e outras manobras obscuras para delapidar o dinheiro alheio.

Se a direita portuguesa não fosse tão miserável teria escolhido outro candidato presidencial, a escolha ou rejeição de Cavaco Silva para o cargo de Presidente da República é mais do que um problema de carácter político, é um problema de memória. Um país que escolhe tal presidente até parece estar com a doença de Alzheimer, esqueceu tudo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O RELATÓRIO "PISA" E OS QUE PREFEREM PISAR O PAÍS...


No meio de tantas más notícias e sabendo-se que uma das causas das nossas dificuldades se encontram no ensino foi agradável saber que um relatório da OCDE conclui que o ensino em Portugal deu um pulo qualitativo significativo nos últimos anos, sendo esta evolução medida pela avaliação dos conhecimentos dos alunos em diversos domínios.

Pouco me importa quem ganha ou perde eleitoralmente, da mesma forma que não avalio eleitoralmente os sucessos de muitas empresas portuguesas, o trabalho meritório de muitos portugueses, sejam serralheiros, escritores, políticos ou portugueses, é destes resultados que se faz o progresso e quando for caso disso saberemos avaliar o trabalho dos governantes, neste como em muitos outros domínios.

É evidente que a fixação dos professores, que a crescente competência dos que gerem as escolas, o empenho dos profissionais do sector são factores determinantes para este sucesso. Da mesma forma que também o foram a aposta no sector, o esforço no combate ao abandono escolar, os investimentos na renovação do parque escolar, a introdução de novas tecnologias nas escolas, as reformas feitas no sector ainda que algumas tenham sido feitas de forma atabalhoada.

O importante agora é que se perceba que foi possível melhorar de forma significativa e que o potencial do que se pode melhorar ainda é muito grande, basta olhar para o ranking das escolas para se perceber que com recursos idênticos as assimetrias nos resultados são ainda muito grandes, muito para além do que se pode explicar como consequência de assimetrias económicas, sociais ou de natureza urbana ou geográfica.

Mas se o estudo serviu para mostrar que ocorreram melhorias significativas no ensino, também pôs em evidência a miséria humana que por grassa, demonstrando que há neste país muita gente mais empenhada que se vá ao fundo do que no seu progresso. Algumas posições que ouvi roçam o miserável, desde um conhecido sindicalista dos professores a um conhecido professor blogger. Mas se os que falaram despudoradamente puseram a miséria à vista, o mesmo se pode dizer de alguns silêncios, personalidades que nunca perderam a oportunidade para desqualificar o ensino e as políticas governamentais do sector.

Recordo-me, por exemplo, das acusação de facilitismo sucessivamente feitas por Pedro Duarte, o deputado do PSD que habitualmente representa este partido nas questões da educação, de Santana Castilho que nos seus artigos no Público ou nos seus comentários televisivos sempre tomou posições que a serem válidas Portugal estaria no fim da lista da avaliação da OCDE, e de muitas outras personalidades que não perderam uma oportunidade para achincalhar o ensino em Portugal até mesmo Manuel Maria Carrilho na sua primeira entrevista a Mário Crespo depois de regressar de Paris optou por desancar no ensino. A excepção a este comportamento miserável foi António Nogueira Leite que se despiu de opções partidárias e teve a coragem de elogiar os resultados.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mudança de epígrafe


Pouco importa que Passos Coelho se desdiga agora — até porque esse péssimo hábito está muito arreigado nele. A malograda Dr.ª Manuela que o diga. Neste contexto, chegou a altura de substituir a epígrafe. Apaga-se esta:
    O Governo tem estado bastante bem nas respostas que tem encontrado para a crise financeira, que, de resto, não são respostas muito originais, são concertadas ao nível europeu, mas que têm funcionado bem em Portugal. - Passos Coelho (10.12.2008)
A nova epígrafe é a seguinte:
    Olhando para os quatro governos individualmente, o maior aumento na despesa veio durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes: 0,48% por ano. Segue-se-lhe o governo de Cavaco Silva com 0,32%, António Guterres com 0,31%, e por fim José Sócrates com um aumento de apenas 0,14%.Ricardo Reis, professor de economia na Universidade de Columbia
Quando tanto se fala de despesa pública, é bom avivar as cachimónias.