Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
1 comentário:
é sem dúvida um poema lindo do Gedeão, mas quero-te ver cheio de esperança pelos dias melhores, porque eles estão aí à tua espera. Acredita que sei que não te sentes bem, mas acredita que há sempre uma oportunidade e tu bem a mereces. Digo-te isto, não é só para te fazer feliz, mas porque sei cá dentro que isto é só mais uma má fase que vai passar.
Contínua a lutar cheio de esperança, porque só assim as coisas boas acontecem.
Beijinhos
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