Depois de décadas sob a ameaça da inflação, esse grande roedor dos salários reais / poder de compra, eis que está aí o problema, ainda maior, da deflação. Numa sociedade com algum equilíbrio entre oferta e procura e que tivesse os movimentos da procura assentes num real poder de compra, uma etapa temporária de deflação seria um fenómeno positivo para os consumidores, na medida que ajustaria os preços e geraria competitividade no fornecimento de produtos e serviços. Mas esta deflação é uma das grandes bolhas da crise e prenuncia efeitos sociais tremendos em que aquilo que agora se vê não chega a ser uma amostra. E que tem, como hipótese, um único resultado positivo á vista: o estoiro da cultura consumista e do seu suporte sócio-económico.
A desproporção do monstro consumista estava latente como a rã da fábula. O comércio ao concentrar-se em grandes superfícies em vez de se racionalizar expandiu-se, gerando a multiplicação da oferta. Os consumidores não resistiram à religiosidade dos novos templos de comércio-lazer, gastando acima do poder de compra real e por recurso parcial ao crédito. Este boom consumista, simultâneo com a diminuição da produção de riqueza pela actividade transformadora criadora de mais-valia (em que esta rarefacção produtiva libertou uma massa imensa de mão-de-obra em conjugação com o vector convergente do resultado da inovação tecnológica nas empresas que sobreviveram), foi ainda um gigantesco gerador de postos de trabalho (um grande shopping alberga centenas e é o sucedâneo moderno das grandes concentrações operárias do passado) que funcionou como almofada amortecedora do desemprego.
Com a crise do crédito e o incremento do receio perante o futuro, apesar de um ligeiro mas positivo aumento do poder de compra, os consumidores retraíram-se drástica e repentinamente no consumo. Uns querem ter dinheiro à mão para enfrentarem o incerto do amanhã. Muitos outros, chutados dos seus empregos, não compram, não podem comprar, acima das necessidades de sobrevivência. Nos pontos de venda, os stocks acumulam-se, as vendas baixam, o expediente é baixar os preços, multiplicando “saldos” e “promoções”. Neste movimento de inércia sem mostras de retorno, temos a deflação. Quantos vão aguentar? Quantos postos de trabalho se vão salvar? Qual o preço do fim da sociedade de consumo que andámos a alimentar? Haja por aí uma alma que me (nos) anime. De preferência, que não seja economista ou gestor.
João Tunes
A desproporção do monstro consumista estava latente como a rã da fábula. O comércio ao concentrar-se em grandes superfícies em vez de se racionalizar expandiu-se, gerando a multiplicação da oferta. Os consumidores não resistiram à religiosidade dos novos templos de comércio-lazer, gastando acima do poder de compra real e por recurso parcial ao crédito. Este boom consumista, simultâneo com a diminuição da produção de riqueza pela actividade transformadora criadora de mais-valia (em que esta rarefacção produtiva libertou uma massa imensa de mão-de-obra em conjugação com o vector convergente do resultado da inovação tecnológica nas empresas que sobreviveram), foi ainda um gigantesco gerador de postos de trabalho (um grande shopping alberga centenas e é o sucedâneo moderno das grandes concentrações operárias do passado) que funcionou como almofada amortecedora do desemprego.
Com a crise do crédito e o incremento do receio perante o futuro, apesar de um ligeiro mas positivo aumento do poder de compra, os consumidores retraíram-se drástica e repentinamente no consumo. Uns querem ter dinheiro à mão para enfrentarem o incerto do amanhã. Muitos outros, chutados dos seus empregos, não compram, não podem comprar, acima das necessidades de sobrevivência. Nos pontos de venda, os stocks acumulam-se, as vendas baixam, o expediente é baixar os preços, multiplicando “saldos” e “promoções”. Neste movimento de inércia sem mostras de retorno, temos a deflação. Quantos vão aguentar? Quantos postos de trabalho se vão salvar? Qual o preço do fim da sociedade de consumo que andámos a alimentar? Haja por aí uma alma que me (nos) anime. De preferência, que não seja economista ou gestor.
João Tunes
1 comentário:
João Tunes
A crise veio para ficar e só uma ruptura dará início a um novo ciclo assente num modelo diferente.
Se por um lado a currupção, o subprime e a ganância desmedida comprometeram o futuro próximo, por outro o querer prolongar o estertor neoliberal só conseguirá prolongar os efeitos da crise e comprometer ainda mais os anos que se avizinham.
Abraço
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