terça-feira, 14 de abril de 2009

SALVEM O FASCISMO!...




Manuel Alegre disse, de umas directrizes banais relativas ao profissionalismo das funcionárias da Loja do Cidadão em Faro, o seguinte:
"É uma coisa de cariz fascizante, totalitário, contra a liberdade individual, é inconstitucional, tem que ser revogada sob pena de qualquer dia numa repartição alguém querer dizer como usar o cabelo e que livro ler, estas coisas são sinais, multiplicam-se estes sinais, tem que ser levado a sério."
Manuel dispõe de poder suficiente para aparecer na comunicação social sempre que quiser. Reúne à sua volta algumas figuras públicas com importância política dentro do PS e à volta dele. No Parlamento, comporta-se como líder independente, votando como lhe dá na real gana. Fora do Parlamento, é parte da oposição ao Governo, deixa-se manipular pelo BE, ameaça criar um novo partido, não se envergonha de apoiar figuras como João Palma, Presidente do Sindicato dos Magistrados. Correm boatos de que está a tentar negociar, ou forçar, o apoio do PS a uma nova candidatura presidencial. Sempre que abre a boca, salta cá para fora o milhão de votos, seguido ou antecedido do 25 de Abril, da esquerda e da sua magnífica pessoa. A sua pessoa, é o próprio a lembrá-lo sem descanso, tem muita importância para a sua pessoa.


Pois bem, o homem faz 73 anos em Maio. Existe a possibilidade de que ainda se imagine a chefiar a Frente Patriótica de Libertação Nacional, tendo em conta que se apresenta no papel de salvador da democracia portuguesa, chantageando o próprio partido onde ganhou a vida. E que terá ele para mostrar? Que feitos, ideias, meros acontecimentos relacionados com as suas funções políticas, pode Alegre referir que tenham contribuído para algum salto qualitativo na sociedade? Não há memória de nada, nadinha, nicles. Tem sido funcionário do PS, profissional do Parlamento, apenas mais um daqueles cidadãos que contribuíram de alguma forma para a mudança de regime, como largos milhares, e depois ficaram com privilégios oligárquicos e vaidade infinita, como algumas centenas. Se porventura viesse a ocupar a Presidência da República, realizando a soberba de se apresentar ao povo como rei-trovador, a boçalidade pacóvia seria torrencial ― e os riscos de intervenções populistas, e dementes, seriam tantos quantos os dias em que tivesse poder político para tal.


Se isto é assim, e não parece que venha a melhorar, antes pelo contrário, vamos combinar uma coisinha, Manuel Alegre de Melo Duarte: diz as maiores bacoradas que te surgirem na moleirinha sobre o Governo, Sócrates, o PS e a esquerda, fogo à peça, mas não apagues o fascismo da História. Por favor. Não nos estragues essa tão útil memória, que tanto revela dos nossos avós, pais e irmãos.


Sim, poeta, quando te permites relacionar o fascismo com um episódio de legítima e bondosa ― mesmo que discutível, como tantas outras dimensões da vida social e profissional ― regulação da aparência de quem serve o público representando o Estado, estás a ofender as passadas, presentes e futuras vítimas de todos os tiranos e seus cúmplices. E pior: estás a reduzir o fascismo aos conflitos morais inerentes à democracia. Isso é grotesco e, se tivesses um pingo de sensatez, chegava para que pedisses perdão pela desonra que cometeste cego e bruto.


Valupi

1 comentário:

Pedro Costa disse...

O próprio nome "liberdade individual" diz tudo: liberdade para ser utilizada na individualidade e não no grupo. Acontece que quando uma pessoa passa a fazer parte de um grupo com regras e regulamentos, passa a ter que integrar o grupo e a ter que cumprir essas mesmas regras. É claro como água.
Há países (e cada vez mais) que não recebem lições de democracia nem do poeta nem dos portugueses em geral, onde é óbvia a ideia de coisas como o "dress code". Ninguém obriga ninguém a trabalhar na empresa A ou na empresa B ou na Policia ou no Exército. As pessoas integram o corpo da instituição e cumprem as normas. Se não lhes interessa, podem sempre exercer o seu direito ao livre arbítrio e simplesmente abandonar o serviço.
Facilita-se um bocadinho aqui, depois outro bocadinho ali e quando se dá pela coisa o caos está instalado. Depois não há onde pôr a barreira: definir o que é decote, definir o que é minissaia, definir se ter vestida uma camisola com a frase "DE PUTA MADRE" é mais ou menos decente que ter as mamas à mostra...