Mas a estupidez — é uma objecção que aqui se torna inevitável — longe de apaziguar sempre, pode mesmo irritar. Para sermos sucintos, digamos que ela excita habitualmente a impaciência, mas também, em circunstâncias extraordinárias, a crueldade; e os excessos odiosos desta crueldade doentia que habitualmente se designa por sadismo, mostra muitas vezes, no papel de vítimas, os imbecis. Isso resulta evidentemente do facto de eles serem para os seres cruéis as presas mais fáceis; mas parece estar igualmente associado ao facto de que a incapacidade de resistir que emana de toda a sua pessoa excita a imaginação como o odor do sangue o animal feroz, e arrastando-o para uma espécie de deserto onde a crueldade "vai muito longe" devido ao facto, ou quase só ao facto, de não esbarrar em quaisquer limites. Existe um traço de sofrimento naquele que inflige o sofrimento, uma fraqueza inserida na sua brutalidade; e mesmo que a indignação privilegiada da compaixão impeça geralmente que se veja, a verdade é que a crueldade, tal como o amor, necessita de dois parceiros que se ajustem! Analisar isso seria certamente uma tarefa importante para uma humanidade tão atormentada como a actual pela sua "indiferente crueldade para com os fracos"
in Da Estupidez, Robert Musil
in Da Estupidez, Robert Musil
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