terça-feira, 24 de junho de 2008

O Provincialismo Português


Se, por um daqueles artifícios cómodos, pêlos quais simplificamos a realidade com
o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior
português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas
não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se
consideram civilizantes com orgulho e erro.
O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no
desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma
subordinação inconsciente e feliz.

Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O
provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não
somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não
somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no
conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido.
Estamos perto de acordar, disse Novalis, quando sonhamos que sonhamos.
in ("o Provincialismo Português" - Fernando Pessoa)

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