segunda-feira, 2 de junho de 2008

MEALHADA, PARTI!!!...


Pela manhã, chovem as cinzas da minha vida, como fotografias rasgadas, caem como flocos de neve na minha mão. Como pequenos vidros gelados atravessam as minhas mãos inertes. Mas por vezes são fagulhas quentes que me trespassam. Por isso, se olhares para as minhas mãos pela primeira vez não baixes os olhos, toca-as e sente-as como se elas fossem realmente minhas... A sensação será de descobrir como está o meu coração, por vezes frio, outras vezes quente e acomodado, como que adormecido... Se sentires as mãos cicatrizadas então é porque já não vivo para ti. A vida tem muito mais sangue para escorrer e sugar, a vida tem muito mais ardor e calor para ser alimentada... Se as minhas mãos já não estiverem lá, não estranhes... Parti...
Mas toda a partida tem o seu regresso, nem que seja por pensamento. Ao acordar um repentino sentimento de isolamento brota do abrir os meus olhos, mas no instante seguinte se desvanece como poeira no ar. O dia é frio e a lenha da lareira está húmida da tempestade ocorrida na noite anterior. Um espelho que se assemelha a um portal do tempo... Por momentos deixo-me invadir pela sua invasão no meu ser, como virtualidade real, passeio num parque, debaixo dos meus pés vejo tons amarelos, laranjas, vermelhos e castanhos que se quebram como folhas caídas, velhas e ressequidas pelo tempo. As árvores negras cobertas por poucas folhas revoltadas se entrelaçam paralelamente, abrindo assim um túnel mágico de tons de Outono. Ao longe vejo um vulto... um vulto alto e distante... De costas para mim... De repente voltas-te para mim, sorris e acenas-me, acendes um cigarro, e envolves-te nele uma vez, e mais outra... até que te perdes no meio da névoa de nicotina... e eu... Cada vez mais afastado de ti, o som da máquina de café acorda-me para a realidade. Por momentos não reconheço o sítio onde estou. Tudo à minha volta é tão incerto e irreal, que o sono me chama e implora pela minha presença... O sabor do café quente, e o ronronar da persa a meus pés traz-me de volta ao mundo sombrio de Inverno. Olho pela janela e as árvores estão verdejantes, as flores crescem sem sentido de desordem e tudo parece artificialmente perfeito. O dia impõem-se e a ordem destabiliza uma noite de sono e começa uma antiga luta angelical entre a vontade de permanecer e o dever de laborar.

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