sexta-feira, 18 de junho de 2010

RETROCESSO CIVILIZACIONAL E ADEUS SARAMAGO!...



Na minha juventude os portugueses acabavam os estudos, iam para a tropa, faziam uma comissão na guerra colonial, por vezes eram chamados de novo já depois de terem passado à “peluda”, empregavam-se, casavam-se e quando chegavam aos trinta anos tinham um emprego estável, tinham comprado ou alugado a casa, tinham filhos e alguns tinham comprado carro, em muitos casais a mulher nem sequer trabalhava. Hoje a maioria dos jovens quando chegam aos trinta anos vivem na casa dos pais, têm um emprego precário, não têm dinheiro para comprar casa e dificilmente ganham para alugar e manter uma casa.
Como explicar que trinta anos depois, com um país mais moderno e desenvolvido os jovens vivam pior e com menos expectativas do que no final dos anos 70? A tudo isto chama-se retrocesso civilizacional, o país produz mais riqueza e os jovens vivem pior e com menos expectativas quando é suposto que o desenvolvimento se traduz em melhores condições de vida. É verdade que mudaram os hábitos culturais dos portugueses, que muitos jovens preferem a ilusão do dinheiro fácil que a precariedade por vezes proporciona, mas também é verdade que temos assistido à proletarização forçada dos mais jovens.
O que explica esta situação? A queda do muro de Berlim levou muitos a achar que não havendo medo do papão comunista podiam dispensar-se os direitos sociais, a globalização levou os nossos empresários a exigir a igualização das regras do mercado de trabalho com a das economias asiáticas, a crise financeira mais recente desencadeou mais uma vaga de propostas que apontam para a destruição da sociedade que o equilíbrio social construiu ao longo de décadas. A criação de emprego serve de chantagem para que os trabalhadores prescindam dos seus direitos.
Não são apenas os fenómenos económicos que explicam o fenómeno, o oportunismo explica muito daquilo a que assistimos. Um exemplo disso é o que se passa nalgumas profissões liberais, por exemplo, os advogados bem sucedidos nunca enriqueceram tanto e tão facilmente como agora, todavia, pagam menos a um jovem advogado do que a uma empregada doméstica, nem sequer se preocupam com o respeito da dignidade da classe. E o que se passa na advocacia passa-se na arquitectura e noutras profissões liberais.
EM nome da competitividade tudo vale, os empresários querem que os trabalhadores tenham os mesmos direitos do que os praticados na Tailândia, os governos querem que os funcionários públicos tenham as mesmas regalias do que os do sector privado, cada crise serve para a sociedade descer mais um degrau. Dantes o desenvolvimento servia para proporcionar mais bem-estar, hoje o crescimento é oferecido a troco da perda desse bem-estar.
Para salvarem as contas e não perderem eleições os políticos desdobram-se a inventar truques para retirar direitos aos trabalhadores, os empresários usam a crise para oferecerem emprego a troco de reduções de salários e de direitos laborais, os sindicatos protegem os que estão empregados e pagam quotas ao mesmo tempo que fazem de programas partidários a sua agenda sindical.
Depois de mais de um século de progresso o país e mundo ocidental assistem à maior perda de direitos e de garantias sociais desde o emergir do capitalismo. Um dia destes accionistas, investidores, políticos, sindicalistas vão acordar com uma revolução à porta e nessa altura vão arrepender-se da orgia que promoveram.

Com tudo isto, uma noticia triste… para mim e penso que para todos os portugueses e não só – a morte do homem JOSÉ SARAMAGO, do corpo, porque SARAMAGO fica para sempre estará sempre vivo.
Vamos agora aguardar pelas declarações de CAVACO…
Ele que sempre o odiou, por isso SARAMAGO ter ido viver para Espanha...
Adeus SARAMAGO!...
UM POUCO DA SUA LUTA NA VIDA.
Um dos mais respeitados intelectuais contemporâneos e ateu confesso, Saramago acusou o papa Ratzinger de cinismo e declarou: “”As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só têm interesse no poder”.
Saramago não está sozinho. Ao longo das história, inúmeros pensadores têm se levantado com veemência contra igrejas e religiões.
Ludwig Feurbach disse que a religião promove um esvaziamento no homem e é anti-humana. Nietzsche afirmou a necessidade do homem romper com a religião para atingir o vigor da vida. Bertrand Russel identificou a religião como um sistema rígido que exclui o questionamento livre e preenche mentes com hostilidades fanáticas. Sigmund Freud entendeu a religiao como neurose coletiva. E aqui, não falaremos o nome de quem disse que a religião é o ópio do povo. Afinal, como Saramago, todos já estão carecas de saber.
A Igreja é contra o uso de anticoncepcionais e preservativos. Prática condizente com sua intenção de dominar os corpos. E os prazeres. A interdição a estas práticas de saúde pública e controle de natalidade abrigam antigas concepções que negam prazer ao ato sexual ao restringi-lo a fins meramente reprodutivos. Práticas obtusas que condenam `a miséria física e espiritual. É que o sonho da igreja, já disse Saramago, “é nos transformar em eunucos”.
O medo sempre foi a mola propulsora da religião: medo da morte, do diabo, da divindade, do inferno, da solidão. Medo de uma existência sem pai. Mas o nosso tempo libera o escritor de outros medos.
Do medo de ser queimado – vivo, se estivéssemos na Idade Média. Do medo de ter seus livros incluídos no Index Librorum Prohibitorum, a lista negra de livros proibidos pela igreja, se estivéssemos em algum lugar antes de 1966. Mas Saramago não tem medo. Aos 86 anos, é um velhinho incontrolável.
Hoje, para puni-lo, impossível a fogueira. Impossível o Index Librorum Prohibitorum. Impossível a excomunhão. A igreja, coitadinha, está de mãos atadas.
Nada mais lhe resta senão condená-lo a arder eternamente no fogo escaldante do inferno. Tudo em que Saramago não acredita.
Por Lindevania Martins.

4 comentários:

Victor de Sousa disse...

O Sr tem razão no que diz, mas a mim parece-me que o cerne da questão é a falta de justiça social e a riqueza produzida ir só para alguns, salários de miséria e falta de organização, mentalidade de compadrio e para terminar os investimentos são mais direccionados para o cimento e menos para o homem. Eu emigrei e penso que foi a melhor decisão que tomei em toda a minha vida.

Afonso Candal disse...

Parabéns para o autor! As considerações que fáz, são muito oportunas e objectivas. Os políticos e a generalidade dos comentadores, preferem enterrar a cabeça na areia do que abordar os verdadeiros problemas da sociedade. Para além de concordar com o conteúdo do artigo,

Anónimo disse...

Saramago partiu e como diz ele ficará para sempre entre nós.
Quanto a Cavaco mais uma vez vai ser hipócrita e até vai chorar…mas talvez lá no fundo seja de alegria porque este homem é cínico e calculista…

resta07 disse...

Heelloo…^_^

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