sábado, 19 de junho de 2010
A TRISTE FIGURA QUE NOS REPRESENTA (CAVACO)
"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos. Mesmo os do mundo"
José Saramago
O romance de José Saramago Evangelho segundo Jesus Cristo foi cortado da lista dos concorrentes ao Prémio Literário Europeu, pelo Subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara. Porquê? "Porque não representa Portugal".
"Esta minha atitude nada tem a ver com estratégias de venda, nem sequer com opções literárias. E muito menos com as escolhas políticas de Saramago. Não entrou em linha de conta o facto de ele ser comunista ou pertencer à Frente Nacional para a Defesa da Cultura".
Afirmações de Sousa Lara ao Público, 25 de Abril de 1992
"A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os."
Sousa Lara aquando do debate sobre a Cultura na Assembleia da República, Abril de 1992. (por onde andará este caramelo?)
Cavaco era o primeiro-ministro de um governo que censurou José Saramago. O único Nobel da Literatura de língua portuguesa refugiou-se então em Lanzarote. No dia da sua morte, Cavaco publicou esta mensagem de condolências à família de José Saramago: “Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura”.
Poder-se-á perguntar sobre qual deveria ter sido a atitude de Cavaco nesta emergência... Diríamos que, não fosse ele um político troca-tintas e arrogante como qualquer outro desses que campeiam por aí, à mensagem de condolências à família teria acrescentado um humilde pedido de desculpas, extensivo ao País, por não conseguir estar, nas suas funções representativas, à altura dos vultos que se destacam e engrandecem a Pátria. São os indigentes intelectuais como Lara e Cavaco que empobrecem a alma deste país... que demonstram também a indigência de um povo que escolhe personalidades destas para o representar.
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2 comentários:
Ainda sobre o tema não posso de deixar um lamento. Eu que também fui prémio nobel, lá na minha Itália quando me finei apenas surgiram comentários do tipo: Olha mais um dos nossos prémios nobel que se foi.
Acrescento também mais um pequeno texto que vi por aí no mundo blogesférico, que é o seguinte:
"A morte de Saramago é para lamentar-se. Sem mas. Recordar as patifarias do homem, nos idos de 75, é um exercício menor. Tudo prescreve. Não com a morte. Com o tempo. Quantos, como Saramago, destilavam insanidades no calor da Revolução e agora merecem as vénias dos mais insuspeitos cultores da Democracia? Quantos? Nas Universidades, na AR e nas instituições comunitárias? Quantos?
O Saramago que morreu era um homem azedo. Mesquinho, até, nalguns dos seus postulados. Não pelo que fez há 35 anos, mas pelo que dizia há 1 ano. Pelo que pensava há 2 anos. Pelo que escrevia há 3 anos. Era um homem marcado. Estigmatizado pelo seu próprio desencanto. Descrente de tudo e de quase todos. Era uma ilha. Por isso se devia sentir bem a morar noutra.
Contudo, o homem não é a sua obra. O homem é pó e desaparece. E com ele todas as páginas que ficaram por escrever, para angústia dos seus leitores, mesmo dos mais selectivos, como eu. O que mais me sensibiliza, porém, é que com esta morte acaba também a esperança. A esperança numa reconciliação dele, daquele concreto homem, com o Mundo e com a transcendência. A obra, essa fica. E ainda bem. Porque apesar de alguns pesares, a obra, no seu conjunto, é muito boa. E muito melhor do que o homem que a pariu. Mas não será sempre assim?"
e o Sócrates que censura tudo?
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