quarta-feira, 12 de maio de 2010

DÚVIDA EXTERNA



Vou divagar, que tenho pressa: isto vai mal. A economia não cresce nem aparece. Os mercados não acreditam em Portugal e, em troca, Portugal não acredita nos mercados. Ou é ao contrário? Seja como for, é uma enorme dúvida externa, que acentua as nossas dívidas metódicas. São dívidas existenciais. São crónicas, e dos bons malandros que sempre fomos. Os tempos são cépticos e assépticos, e não estão para graças a Deus, que o diga o Papa. O rating de Ratzinger está baixo, como o nosso: dantes era a Joana que comia a papa, agora é o Papa que come a Joana. Sei que vou pagar por esta, mas prefiro pagá-la a apagá-la. Se há Deus, que me acuda. E se não há?


Se não há, adeus ao que é de Deus, a César o que é de todos os santos, que assim também não existem. Prefiro pensar que se não houvesse, teria de ser inventado. E foi. Depois Deus inventou o Homem à Sua imagem. Os gregos tinham inventado Deuses à imagem do Homem, e por isso o Olimpo era o que era: uma casa de doidos. Hoje é um Zeus nos acuda em Atenas, mas isso é apenas outra História. Clássica, mas sobretudo eurótica. Nem ao mero poeta lembraria tal odisseia.


Ver-nos-emos nós gregos? Longe vá o agora, que o passado é cada vez mais imprevisível: o que teremos nós feito, para aqui chegarmos? Perdemo-nos em flagrantes de litro, a vida para nós foi mais bolos, e esquecemo-nos de que o creme não compensa. Vamos chorar sobre o deleite derramado? Por mim, dispenso logo existo. Mas insisto: o futuro já não é o que foi, e se calhar não havia razão para ter sido o que chegou a ser.


Dispenso, mas depois compenso. Não tenho soluções para a crise - o único remédio é fazer cortes de ténis menos caros, e menos carros. Juntemos o fútil ao agradável: agora que os dias são menos noite, vou contemplar o meu próprio destino ao sol do fim de tarde bebendo um gin platónico, como o amor que é fogo que arde sem se vir - assim começaria o meu poema, que nem é ode nem sai de cima. Vendo bem, façamos o gin tónico, e também o amor. Os tempos, direi melhor, não estão para desgraças, a vida é demasiado curta para beber vinho barato. E tristezas não apagam dúvidas.


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