A decisão da Moody não contém nenhuma informação nova, mas seu raciocínio reflecte um fato crucial sobre os participantes do mercado: eles não têm fé na estratégia actual da zona do euro. O avaliador adverte que Portugal não pode recuperar o acesso ao financiamento privado acessível quando projectadas pelo empréstimo EFSF, e que os credores oficiais emprestaram mais somente se os obrigacionistas privadas fizerem um sacrifício. Certamente com estes chimes exactamente está o pensamento a maioria dos investidores ". (Editorial do Financial Times)
Confesso que a criação de um novo bode expiatório - as agências de rating - não me entusiasma por aí além. Não porque não mereçam ser criticadas, mas porque a crítica e a indignação servem de pouco e, sobretudo, porque temo que a unanimidade, nacional e europeia, em torno deste novo mafarrico sirva para desviar a atenção daquilo que verdadeiramente importa: o reconhecimento, por parte da UE (Comissão, BCE e Conselho), de que a abordagem moralista à crise das dívidas soberanas está errada e tem de ser radicalmente revista.
A crítica é sempre mais eficaz quando parte dos pressupostos que estiveram na base de uma determinada política e demonstra como, nos seus próprios termos, essa abordagem está a falhar. É aqui que o comportamento dos mercados e das agências de rating se torna relevante. Não porque seja 'errado' ou 'injusto', mas, sobretudo, porque o principal objectivo da chamada consolidação orçamental e das reformas estruturais é, precisamente, o de conquistar a confiança dos mercados e das agências de rating. Perante isto, e tendo em conta a evolução dos juros e os sucessivos cortes de rating, só podemos concluir uma coisa: esta abordagem não só não está a funcionar, como não se afigura possível que tal coisa venha a suceder.
João Galamba
Sem comentários:
Enviar um comentário