segunda-feira, 13 de junho de 2011

OS DOIS DESAFIOS DO NOVO PS.

São dois os principais desafios do novo PS. O desafio de assumir um compromisso com o passado e com o legado do PS de José Sócrates, para lá do fanatismo acrítico, discutindo os excessos e os erros. E o desafio de assumir um compromisso com o futuro fazendo das pessoas a razão da acção política assente num novo contrato de transparência e credibilidade entre os Partidos e os Portugueses.

Não são desafios fáceis. Vivemos ainda nos dias da emoção que efervesce sobre uma derrota duríssima, em que muitos são responsáveis para lá do Secretário-Geral. Os Barões da Derrota devem ser humildes e dignos, tal como o foi José Sócrates. Mas não podem expurgar-se em poucos dias da responsabilidade do declínio. O PS tem perdido eleitorado, de forma consistente, desde 2005, em todas as eleições (Legislativas, Presidenciais, Europeia e Autárquicas). A sua experiência é útil mas deve estar ao serviço do Partido e não servir-se do Partido e das últimas horas de gabinetes com secretariados – precipitação de procedimentos e ajustamento das regras ao interesse de um grupo seria um grave atentado à história do Partido.

O puro tacticismo ideológico levou-nos a um beco. Vai ser difícil fazer oposição a um memorando, assinado por nós, que pretende destruir o Estado Social – por cuja defesa foram eleitos os nossos deputados, os que estarão na primeira linha da bancada parlamentar. O calculismo político poderia aconselhar que se deixasse os Barões da Derrota dar a cara na oposição. Seria uma questão de tempo para o PS se desintegrar ou cair no colo de quem “avisou”. Mas a responsabilidade política exige que se construa um novo projecto político que agregue, que some e que inclua também os Barões da Derrota no papel que lhes será adequado. Citando José Sócrates, num comício em 2009, “neste PS, todos têm o seu espaço, em função do seu mérito”.

O segundo desafio distancia-se do que Paulo Pedroso e Ana Gomes pretendem – refundar a esquerda. Há questões prévias. A questão da credibilidade da política, dos políticos e dos partidos. Com um instrumento musical podre não há música que agrade. Eu concordo que a esquerda deve reencontrar os nós sociais e apresentar uma estratégia para os desatar. Mas antes disso deve haver um intenso debate sobre os instrumentos que assegurem legitimidade ao contrato social: a credibilidade dos partidos e a forma de fazer política. Esse é o grande desafio: regras claras, justas; a noção clara de quem nem todos os fins justificam todos os meios; estruturas independentes; menos personalização; procedimentos correctos que garantam a igualdade de acesso à informação; fazer dentro do partido o que se apregoa para o País (contas transparentes, recrutamentos transparentes, gestão participada, discussão dos conteúdos em pormenor, usar a forma e o folclore como complemento e não como essência). Daí, com força, com tranquilidade ética e moral, partimos para o sonho de transformar Portugal numa sociedade mais justa e equitativa.

Sem resolver essa questão prévia será uma questão de tempo para voltarmos a ter um debate com "profundas reflexões" sobre a derrota.

JR

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