quinta-feira, 19 de maio de 2011

Quantas novas oportunidades daremos a Passos Coelho?

Pedro Passos Coelho acha que as Novas Oportunidades são uma certificado à ignorância. Assim como acha que o subsídio de desemprego é um expediente de preguiçosos. Passos Coelho deve ser um homem que, desde de tenra idade, deu no duro. Um aluno brilhante que singrou numa carreira e assim se impôs aos que o rodeavam. Porque tanta arrogância social só pode resultar de uma vida sofrida que olha com impaciência para as dificuldades dos outros. Quem vá ouvindo a forma como a nossa elite fala dos menos afortunados terá de concluir que é o mérito, e apenas ele, que explica o seu sucesso.

Pois eu admiro quem, depois de um dia de trabalho, ainda arranja forças para ir para uma escola. Admiro quem tira tempo ao seu tempo para aprender um pouco mais. As Novas Oportunidades não corresponderão muitas vezes a um ensino de excelência. Aqui e ali poderão, muitas vezes, ser ligeiras. E as principais vítimas desse facilitismo serão aqueles que perdem o seu tempo para melhorar os seus conhecimentos e ver habilitações que já têm, conseguidas fora dos bancos da escola, reconhecidas pela comunidade. E serei o primeiro a defender que não pode haver uma formação de segunda para quem se esforça para conseguir mais. Mas nunca, em nenhum momento, me atreveria a insultar assim o esforço destas pessoas.

A frase de Passos até pode ser popular num País onde o esforço de quem não se resigna a ficar no seu lugar é, pelo menos até se conseguir engordar a conta bancária, motivo de troça. Quem fez o 12º ano até pode gostar de pensar que os que chegaram até lá fora de tempo não o merecem. Mas ela carrega consigo o indisfarçável desprezo que os homens à volta de Passos Coelho têm por aqueles que esta sociedade desigual e esta elite arrogante vê como "falhados". É assim com os desempregados, é assim com os que têm menos estudos. E este padrão de desprezo social diz quase tudo sobre a forma como estes senhores pretendem governar o País.

Daniel Oliveira - in Expresso

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