Corrupção? É claro que sabemos o que é. Não há como não saber. Afinal, vemo-la todos os dias ao sairmos de casa e olharmos para as viaturas topo de gama e de alta cilindrada, impossibilitadas de se explorar na sua potência máxima pelo trânsito congestionado ou pelos buracos que superabundam nas estradas das cidades.
A corrupção está, ainda, nas fendas abertas em vias ainda agora reabilitadas, nas demolições forçadas de residências, nas obras malfeitas e nas que nunca terminam, na escola degradada em que estuda o nosso filho, nas insuficiências que ele apresenta, enfim, naquele enorme hospital, todavia desprovido de quase tudo, desde competência humana a um fármaco sequer.
Vemo-la, a corrupção, uniformizada de azul ou, mesmo, envergando uma farda camuflada mas que deixa, de longe, sobressair patentes reluzentes que pesam mais do que a honra e a dignidade nos ombros de quem as ostente; nas gravatas de seda, que se destacam sobre um colarinho branco de algodão puro, ela também lá está, assim como a vemos nas mãos levantadas no Parlamento ou nas páginas das revistas cor-de-rosa, onde os protagonistas dos factos aí relatados exibem um sorriso digno de fazer inveja a qualquer publicidade da Colgate. Mas está, também, presente na mão estendida e nos andrajosos do mendigo que nos acena por ajuda, logo na primeira oportunidade.
É claro que sabemos o que é a corrupção. Não apenas sabemos, como ainda a sentimos. É, por isso, escusado que venha o Presidente da República lembrar-nos que ela existe e nas dimensões catastróficas que assumiu neste país. Não é disso que precisamos!
Na verdade, precisamos de Eduardo dos Santos muito. Na sua qualidade de líder desta viação seria bom ouvirmos medidas concretas, respostas aos dilemas que nos colocamos enquanto cidadãos, todos os dias relacionados com a problemática da corrupção.
Como combatê-la? Será colocando todos os corruptos na cadeia? Temos, entre nós, a certeza de que o caminho não é por aí. Afinal, se assim tentássemos, uma grande parte do Governo estaria a compor, agora, a maioria da população carcerária em Viana. É possível combatê-la quando sabemos que todo o mundo tem telhados de vidro? Haverá, de facto, coragem suficiente para se atear fogo sobre o vizinho, perante o nosso gigantesco rabo-de-palha?
São estas respostas que esperamos ouvir do Chefe de Estado, da próxima vez que falar sobre a corrupção em Angola. Afinal, não basta prometer tolerância zero, ou pronunciar-se a respeito na proximidade de um evento fulcral para a sua segurança política. Ou seja, não precisamos de esperar pelos congressos do maioritário para descobrir que a corrupção existe no país.
Em definitivo, precisamos, isso sim, de instituições que funcionem com independência suficiente do poder político, para fazer valer a lei; para que, num dia qualquer, possamos entender a razão pela qual gente sem antepassados ricos, nem antecedentes empresariais, se tornou, do dia para a noite, milionária ao ponto de deambular pela Europa, dando-se ao luxo de comprar até empresas falidas ou mesmo coisas de luxo... À grande e à angolana! Providência divina, senhores, já sabemos que não foi. Disso temos a alguma certeza!